quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Edival Dias - Da periferia para o palco da vida

Alexandre Lucas - Quem é Edival Dias?

Edival Dias - Artista, educador, militante esquerdista (PCdoB) e ator social. Nascido a 25 de setembro de 1966, na pequena cidade de Bom Conselho - PE, vindo residir com meus pais na cidade de Crato-CE aos 11 anos de idade para ingressar no Ensino Fundamental II, pois até então só havia estudado na área rural. Morei no bairro Batateiras até os 14 anos, quando me mudei para Recife, depois Rio de Janeiro e São Paulo, retornando ao Cariri há cinco anos e estabelecendo uma relação de pertença com esta região. Hoje sei que posso contribuir com meus préstimos profissionais em diversos setores da sociedade e tenho tido a oportunidade de crescer profissionalmente e realizar o que gosto e sei fazer, que é trabalhar com as artes no fomento de uma educação libertadora e política, tendo como clientela as várias esferas sociais.

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seus trabalhos artísticos?

Edival Dias - Sempre associei as minhas lutas sociais à arte, pois interagir em outros universos, pois estamos dialogando e intervindo nas relações humanas o que exige da gente um desdobramento e uma entrega ao outro, coisas que só os artistas fazem com tanta propriedade, o que chamo de empatia, viver a situação do outro, comungar com o outro e sobre tudo partilhar de interesses coletivos. Mas a arte formal só aconteceu no ano de 1990, quando fui convidado para participar de uma seleção para atores num grupo de teatro chamado GRUTMA, na cidade de São Paulo, o qual foi a minha primeira experiência em palcos convencionais, neste período fazíamos um teatro mambembe e vendíamos nossos espetáculos nas escolas públicas da periferia da cidade de São Paulo, foi uma experiência ímpar, pois neste momento, descobri a minha outra faceta, a de ator social, pois via nas escolas a possibilidade de fazer um teatro educativo, porém não tinha a consciência desse fazer teatral, até então só intuição, coisa que viera se confirmar mais tarde, quando entrei para a faculdade de artes cênicas e comecei a pesquisar e me fundamentar nas teorias das artes.

Alexandre Lucas - Qual a sua formação na área do teatro?

Edival Dias - Comecei a minha graduação em 1992 na Faculdade Mozarteum de São Paulo, hoje Famosp. Graduado em 1996 e pós-graduado só em 2005, pois fazer uma pós-graduação há dez anos, era privilégio de poucos, só me oportunizando agora e no cariri. Salve o cariri. Tenho especialização em Educação especial/Inclusiva, tendo como temática o teatro inclusão, pois percebo e acredito que a arte é por excelência um vetor de inclusão social e só seremos uma sociedade democrática e livre da opressão quando socializarmos e incluirmos todas as raças e credos num mesmo cenário, respeitando as particularidades e as diferenças que são peculiares a cada indivíduo, mas que podem comungar na diversidade. Nesse período de 1996 a 2005, busquei sempre a minha formação contínua na área, participando de simpósios, conferências, seminários, cursos, atuação em grupos teatrais e terceiro setor (ONG`s), no qual me recordo com saudosismo da Fundação Gol de Letra, que me ensinou como atuar nessa área social, pois estávamos localizados no meio de uma periferia, cercada de favelas e ao mesmo tempo no meio de uma clientela rica de saberes popular e domínio de territorialização, pois eles sabiam por que estavam ali e o que queriam da vida, sobre tudo respeitavam o espaço coletivo da comunidade, vivendo em harmonia.

Alexandre Lucas - Você vem da periferia e isso faz alguma diferença para compreensão sobre arte?

Edival Dias - Com certeza, só podemos nos expressar com propriedade quando somos conhecedores de causa, digo que a arte tem a função de perturbar e isso só podemos fazer no caos. A periferia traduz com muita propriedade esse caos, pois aglomeram o que a sociedade chama de “marginalidade” e nós periféricos estamos sempre a margem do sistema, apesar do avanço da globalização.

Alexandre Lucas - Quais suas influências no seu fazer artístico?

Edival Dias - Ufa!!!!!!!!!! São tantas, costumo me definir como um pigmaleão, me adapto as diversas situações propostas pelo o meio ao qual convivo, assim, recebo influências das mais diversas, dependendo do contexto ao qual estou inserido: Dona Edite do coco da batateiras(minha mãe), Bertold Brecht, Karl Marx, Michael Foucault, Ariano Suassuna, Maria Yuma, Irene Ravache, Cordel do fogo encantado, Paulo Freire, PCdoB, Augusto Boal, Chico Buarque de Hollanda, Gianfrancesco Guarnieri, Jesus Cristo, Padre Cícero, Beato José Lourenço, profeta Gentileza, Artur Bispo do Rosário, Fundação Gol de letra, Colégio Angelli Bonni, Natália Giro, Cia brincante de teatro, carroça do mamulengo e tantas outras.
Como você a relação entre arte e política?
Não consigo desassociar arte da política, a arte é com excelência uma manifestação política, uma forma de pensar, fazer, interagir e o melhor, formar opiniões. Com a arte falamos verdades e mentiras e ainda podemos sair à francesa quando necessário, como faziam com a comédia Dellárte.

Alexandre Lucas - Você acredita que o teatro pode ser instrumento de politização?

Edival Dias - É um fato, por meio do teatro educamos platéias, portanto é um instrumento político, pois há transformação.

Alexandre Lucas - No período da Mostra Sesc você ministrou oficina sobre Teatro do Oprimido com jovens da periferia. O que resultou em intervenções teatrais nas filas de espetáculos do evento. O que isso significou?

Edival Dias - Foi uma das minhas mais valorosas contribuições para a arte no contexto social, pois estávamos envolvidos com uma clientela da periferia, com pouca experiência teatral e que resultou num trabalho consciente. As meninas curingas,vivenciaram algo que estava fora da sua realidade e conseguiram atrair a atenção de um público bem diferente do seu universo, pois muitas delas nunca tomara conhecimento ou participara da mostra SESC, assim, cumprimos com o papel do teatro do oprimido, intervir em universos desconhecidos com a empatia do público, levar o outro a refletir sobre o seu papel social, onde todos podemos atuar no mesmo patamar de igualdade.

Alexandre Lucas - Você integra o Coletivo Camaradas o que isso representa para você?

Edival Dias - Mais uma experiência e influência na minha carreira artística, representa poder atuar na esfera social, sem perder a maestria da arte politizada e técnica se necessário.

Alexandre Lucas - E por falar nos “Camaradas” você coordenará o Grupo de Estudos e Experimentos Teatrais do Coletivo. Em que consistirá esse grupo?

Edival Dias - A proposta de trabalharmos com a linguagem teatral no coletivo é nos apropriar dos fazeres artísticos em defesa de uma causa social e educacional, um teatro que valorize a pesquisa, o experimento, a criação e que a produção seja resultante de todo um processo, que possa ser discutido e dinamizado com o grupo e parceiros envolvidos numa perspectiva de um teatro didático e político, fazendo valorar a aquisição da aprendizagem nessa vertente.

Alexandre Lucas - Quais seus próximos projetos?

Edival Dias - Plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um filho. rsrsrsrrsrsrsrsrsrsrsrrsrs

Nenhum comentário:

Postar um comentário