quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Hamurábi Batista – Um artista ponteiro




Os pontos de cultura é uma invenção que deu certo. Um dos exemplos vem de Juazeiro do Norte trata-se do Ponto de Cultura Mestre Noza que é gerido pelo ponteiro Hamurábi Batista. Neste Ponto de Cultura, os artistas agora tem a possibilidade de ter acesso gratuito a rede mundial de computadores, além de puderem fazer o registro dos seus trabalhos e isso é conseqüência do trabalho dedicado que vem sendo desenvolvido pelo artista visual e poeta Hamurábi, que recentemente ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCdoB.


Alexandre Lucas - Quem é Hamurabi Batista?


Hamurábi Batista - Poeta, xilógrafo, bicho do mato, fruto da década mentirosa, pós ditadura, punk da década de 80 em Juazeiro do Norte.


Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?


Hamurábi Batista - 1980, imprimindo as xilos gravadas pelo pai, em seu ateliê no fundo do quintal. No mesmo ano passou a escrever poesias nas capas dos cadernos, motivado pelas aulas de português e literatura do ginásio. Também passou a modelar com argila.


Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Hamurábi Batista - O dia-a-dia, o rock’n roll, o jazz, o blues, os telejornais, a cultura popular, Augusto dos Anjos, Drummond, Bandeira, Abraão Batista, Mestre Noza, Chico Buarque de Holanda... Tom Zé, revolução.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?


Hamurábi Batista - A arte é livre, e penetra como o vento em todos os lugares que dêem passagem. Todas as coisas são boas, ruim é quem usa. A arte como instrumento formador de opinião, gerador da revolução. Tudo é política, a arte está em tudo. Reprovável podem ser as atitudes das pessoas, sejam na política, na arte, no convívio, no trabalho...

Alexandre Lucas - Seu trabalho é uma mistura do contemporâneo com o popular?


Hamurábi Batista - Exatamente, tudo que faço é resultado disso. Nasci em 1971, um dos piores anos da ditadura, fui adolescente na transição pra a “democracia”, então, acho estar ali o início da fusão. Não posso deixar de lado a tradição popular. Aquilo que mais quis provar era a liberdade de ser uma pessoa íntegra sem a necessidade de seguir padrão forjado pela ditadura, ou por preconceitos. As pessoas mais legais, são as mais simples... não dá para largar isso: o simples e o complexo, o antigo e o moderno. Uma coisa só existe em oposição a outra. Só existe o “sim” por causa da existência do “não”...


Alexandre Lucas - O que representa para você estar no comando do Centro de Cultura Mestre Noza?


Hamurábi Batista - Poxa, muito massa, sou um cara que dá maior valor para as coisas feitas das formas mais rudimentares, sem obrigação de utilizar os recursos modernos. A Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte, da qual sou presidente eleito pela assembléia geral, é exatamente isso, a auto gestão. Procuro integrar meu conhecimento, e minha escolaridade ao movimento, posso ajudar bastante, já conquistamos boas coisas juntos. O Centro Cultural Mestre Noza, gerido pela associação é esplêndido, magnífico, pua que palavras quando podemos constatar pessoalmente? Visite-nos: rua s. Luis, 96 (antigo quartel) centro.

Alexandre Lucas - Quais os desafios do Centro de Cultura Mestre Noza?

Hamurábi Batista - Todos os desafios estão ligados a um: o escoamento da produção. Este é o foco. Não adianta nada se não superarmos a dificuldade de comercialização dos nossos produtos, não dá nem pra pensar com fome, com dívidas, com planos adiados, frustrações...

Alexandre Lucas - Qual a importância do Centro de Cultura Mestre Noza ser Ponto de Cultura?

Hamurábi Batista - INTEGRAÇÃO, E INTERAÇÃO COM OS DIVERSOS SETORES, LINGUAGENS, E TIPOLOGIAS DA CULTURA E DA ARTE, POR MEIO DA REDE ESTADUAL E/OU NACIONAL DOS PONTOS DE CULTURA, O RECONHECIMENTO POR PARTE DOS GOVERNOS ESTADUAL E FEDERAL, AS OPORTUNIDADES E PERSPECTIVAS QUE SURGIRAM, E PODERÃO SURGIR A CURTO E MÉDIO PRAZOS, INCLUSÃO SOCIAL.


Alexandre Lucas - O Brasil vive um novo momento de caráter progressista na área das políticas públicas para a cultura. Como você percebe essa nova conjuntura?


Hamurábi Batista - Importante demais o fato dos recursos públicos para a cultura estarem passando pelas mãos das comunidades culturais, e dos artistas, através dos editais. Há muitas críticas sobre essa política. Vamos avançar sim, lógico. Vejo que antes não tínhamos nada além do abandono e da indiferença. Vamos em frente aprimorar isso conquistado. Buscar formas mais viáveis, eficazes, inclusivas. Há muita gente ainda sem saber escrever projetos, há muitos compatriotas ainda movidos pelo rancor, pelas seqüelas, vamos incluí-los, vamos libertá-los, já!...


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho, enquanto artista?


Hamurábi Batista - Procuro fazer com que as pessoas tenham a liberdade de utilizar o recurso proibido à minha geração: o pensamento, a libertação do preconceito, o rompimento das amarras. Busco a pitada, apimentada, o tempero para tornar mais quente, mais penetrante, mais perigoso aos decreptos.


Alexandre Lucas - Você agora é comunista?


Hamurábi Batista - Vou responder com uma poesia:

O QUAISQUERES

Qualquer coisa eu sou um monossílabo

Dividido em qualquer rima

Desigual

Qualquer ISTA que eu não seja

Natural

Sou um EIRO

Qualquer e impossível

Um talvez

Um tampouco

Ou um total

Numa medida qualquer

Que for possível.

Hamurábi

O velho punk com tendências anarquistas dos anos 80, recém filiado ao PC do B, simpatizante de Trotsky, puto da vida com Stalin, apaixonado por Dilma.

É isso aí, é isto aqui: artesanato é meio comunista, é auto gestão, é Canudos, é Caldeirão.


Alexandre Lucas - Como você ver a atuação do Coletivo Camaradas?


Hamurábi Batista - Poxa, tenho o Coletivo Camaradas como referência. Adquiri quando estudava na Urca, Letras. Do pouco que se salva naquela bodega. Com todo respeito aos colegas professores, e aos companheiros estudantes. O Coletivo Camaradas sempre será pra mim uma grande referência daquilo que há de bom.


André Ferreira - Um misturador de reggae e poesia matuta



A poesia matuta e o reggae se misturam no trabalho do músico André Ferreira que desde menino aprendeu a gostar da poesia popular com a sua família. André prega nos shows que faz com a banda Liberdade e Raiz o amor e a justiça social. Ele é desses que acreditam que a música deve servir para humanizar e refletir sobre às questões que afetam a vida do povo.



Alexandre Lucas - Quem é André Ferreira?

André Ferreira - Um guerreiro espartano no mundo contemporâneo. Mas, lutando com as armas do bem. Buscando ser espada viva e resplandecente por todo este universo.

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

André Ferreira - Em Janeiro de 2006 foi plantada uma semente no solo fértil caririense, chamada Liberdade e Raiz. Foi quando dei os primeiros passos como músico. Hoje uma árvore com frutos, em meio ao manancial de grandes criadores locais. Faço o que gosto, com a minha cara e com a cara de quem quiser apreciar.
Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

André Ferreira - As principais influências do meu trabalho são as esmeraldas encontradas na poesia matuta. Uma cultura apreciada com agudez por minha mente, corpo e espírito.
O espaço natural, o convívio com as pessoas. Lugares, dias, épocas, tudo e todos. A música em sua magnitude intelectual, filosófica e literária.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

André Ferreira - Arte e política andam lado a lado pelo simples fato da política mundial e a vida do ser humano ser quase todo o tempo embasado na beleza, além, de ser uma forma de educação, diversão e cultura. Conexão interligando o mundo em muitas vertentes.

As diversas artes existentes exprimem a vontade, a cultura, a educação e a liberdade de um povo. Quanto mais diversificada a arte em um país maior sua cultura, educação e liberdade de expressão de um povo, ou seja, mais desenvolvida a nação.

Além do fato de que quanto maior o nível de entretenimento do povo, menor suas intervenções políticas e sociais

Alexandre Lucas - Você é o líder da Banda Liberdade e Raiz. Como surgiu a idéia de misturar reggae e poesia matuta?

André Ferreira - Não foi exatamente uma idéia montada como um quebra cabeça. As composições foram conseqüência da natural essência que se entranhou em meu ser, diante das prosas recitadas na dialética matuta, (Poesia Matuta) exibida por meu avô, Antonio Miúdo, como era conhecido e, meu tio Elizon Ferreira. Que ainda hoje me surpreende com suas histórias contadas em versos matutos.

Alexandre Lucas - A banda continua seguindo essa linha?

André Ferreira - A banda tem uma autenticidade adentro a peculiaridade nordestina e no cenário reggae, deve ser respaldada como proposta única. Pois temos consciência de que somos os únicos fazendo Reggae com Poesia Matuta. Até que um dia, quem sabe, sejamos influência de outros caras. Sim, continuamos enveredando nessa linha.

Alexandre Lucas - Tem crescido a música reggueira no Cariri?

André Ferreira - De fato o movimento reggae cresceu muito nos últimos anos aqui na região do Cariri. Mas ainda não temos as raízes verdadeiras do reggae na cultura local. Isso é com o tempo. As pessoas precisam pesquisar buscando incessantemente entender suas vertentes e principalmente sua maior causa. “Tocar fogo na babilônia”. Que significa, dar amor uns para os ouros. Atingir as pessoas com amor.

Alexandre Lucas - Quando será lançado o segundo CD da Banda?

Atualmente estamos em estúdio gravando o CD ‘Reggae Roots Cordel’. E queremos demonstrar nesse acervo, todo nosso esforço e dedicação, focando e difundindo assuntos diversos, numa pluralidade musical bairrista-universalizada. Esse será nosso CD de Nº 1 gravado em estúdio. Mas já gravamos vários CDs demonstrativos.

Alexandre Lucas - O reggae é uma música discriminada?

André Ferreira - Mesmo no meio do movimento há sempre quem critique. A música do gueto sempre será descriminada, por se tratar de um movimento de protesto, com livre expressão, resistência suburbana e, principalmente da negritude. Dentre outros fatores que contribuem para o desconforto dos escravos capitalistas.
Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Andre Ferreira - Ensinar a valorizar a nossa cultura, nosso povo, nossas raízes. O manancial de nossas águas em meio a o oásis cearense.

Alexandre Lucas - Além do reggae quais os outros estilos musicais que você aprecia?

Andre Ferreira -Blues, um pouco de Jazz, Rock clássico e outras vertentes, Forró de Raiz, Maracatu, Rap Nacional, MPB, Aboios, samba de raiz, Bandas cabaçais, Dance Hall, Rocksteady. Ska, Dub, New Roots, Música instrumental.

Alexandre Lucas - Quais seus próximos trabalhos?

Andre Ferreira -
Com a Liberdade Temos planos em mente.
Mas, particularmente, um CD. Meu novo projeto com a banda Expresso Reggae. Ainda sem nome em esboço, mais brevemente no mercado.

Ricardo Campos - O observador dos marginalizados

Poeta, contista, artista visual e acadêmico do Curso de Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri – URCA, Ricardo tem como ingrediente para a sua produção estética e artística o cotidiano das pessoas que estão à margem da sociedade. Campos tem clareza que a arte não é dom, mas domínio.

Alexandre Lucas - Quem é Ricardo Campos?

Ricardo Campos - Sou um bom garoto (segundo minha mãe), além disso, sou estudante de artes visuais (URCA) e me dedico ao desenho e a criação literária. Tive 03 exposições individuais, 04 coletivas, participo freqüentemente de recitais poéticos, e tenho 2 publicações (contos) pelo Sesc e pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Ricardo Campos - Muito cedo me interessei pelo desenho, ainda criança. Na adolescência descobri a poesia, mas a só aos poucos anos fui realmente começar a entender que aquelas idéias meio lunáticas que povoavam minha cabeça poderiam ser organizadas num trabalho realmente de cunho artístico. Descobri que a arte não era dom, mas domínio.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Ricardo Campos - Os quadrinhos, a pop arte, o bar de Ciço Pebinha, Rubem Grilo, Fernando Sabino, Ferreira Gular, Modigliane, A pedra do Vento, Roberto Carlos, Salvador Dali, Millor Fernades, The doors, o Tocha Humana, Henri Miller ...

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Ricardo Campos - A política esta em toda relação humana. Não se pode desassociá-la da arte, mesmo que o artista não tenha essa clareza das coisas, seu trabalho, sua cultura e ele mesmo, tem influencia das políticas praticadas na sua sociedade. Agora, o grande lance é como absorver e reinterpretar essa parada.

Alexandre Lucas - Como é essa história de pesquisar sobre a boêmia como matéria para a sua produção estética e artística ?

Ricardo Campos - Não se trata de pesquisar sobre a boêmia, na verdade eu observo seres humanos. personagens marginalizados e situações ordinárias.
Meu ultimo trabalho o “guardanapos” este sim, foi uma serie de desenhos em nanquim onde o foco era a noite boêmia na periferia.

Alexandre Lucas - Fale sobre seu trabalho visual?

Ricardo Campos - Sou um Desenhista de mim mesmo. Mas não desenho ou pinto o que gosto. Pelo contrario, algumas vezes reescrevo o que não gosto, ou o que não encontro ou o que a maioria das pessoas acredita que não vale à pena. Gosto de trazer a tona detalhes de coisas que normalmente não se dar conta.

Alexandre Lucas - Fale sobre o seu trabalho literário?

Ricardo Campos - Não há diferença no meu processo criativo (desenho, pintura, poesia ou conto).
Desde criança quando vejo uma imagem que me chamava atenção junto a ela automaticamente segue-se no pensamento uma frase ou uma citação de efeito. O exemplo mais recente disso é a minha ultima exposição individual (guardanapos) no Centro Cultural do Banco do Nordeste de Sousa PB. Que discute o mesmo universo e tem a mesma pegada poética do meu ultimo conto (A sombra do invisível) que foi recentemente publicado pelo SESC Crato. (um dos 10 selecionados da III Coletânea de Contos SESC)


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Ricardo Campos - Sempre tive o ser humano como protagonista no meu trabalho, principalmente os marginalizados.

Alexandre Lucas - Você acredita que a Academia elitiza a arte?

Ricardo Campos - A academia me elucidou muitas coisas que via de maneira totalmente leiga no campo da arte. Penso que ela é fundamental para qualquer caminho que se deseje seguir. Mas também vejo a academia (no que diz respeito à arte) como uma escolinha de futebol. Que ajuda o garoto na disciplina e no treinamento tático, mas que se não tomar o divido cuidado pode-se perder o gingado e a malandragem, engessando e castrando sua poética.

Alexandre Lucas - Qual a importância de se fazer uma arte para as camadas populares?

Ricardo Campos - Boa pergunta. Arte que atinge as camadas populares pra mim, é a que a academia e os próprios artistas “conceituais” chamam de artesanato. A maioria dos artistas “contemporâneos” que conheço elitiza a arte. Produzem para um grupo muito restrito da sociedade, e deram pra chamar a arte popular de ingênua (Naif). Mas na real, pra mim o que é mais importante não é fazer arte para o grupo A ou B, o fundamental é fazê-la legitimamente, torná-la verdadeira e honesta.

Alexandre Lucas - Como você enxerga os coletivos de artistas?

Ricardo Campos - Muito positivamente. E o que mais me alegra é a diversidade de interesses que muitos desses grupos revelam.
Alexandre Lucas - Você é um artista que busca novos suportes para o seu trabalho?

Ricardo Campos - Sim. Mas isso pra mim não é uma paranóia. Tenho medo de me transformar num charadista. Só vou Desenhar numa melancia quando puder defender o motivo desse feito com honestidade.

Alexandre Lucas - Qual a importância do Coletivo Camaradas?

Ricardo Campos - O coletivo Camarada é o coletivo mais atuante da região. Independente de ideologia, o que me deixa muito feliz é o trabalho feito nas comunidades carentes, com a facilitação de oficinas, trazendo jovens para experimentações artísticas. Construindo uma corrente de pessoas interessadas na arte e na solidariedade. Gostaria de ter mais tempo para reforçar essa corrente.

Janinha Brito - A (a)postadora do Cariri no mundo




Blogueira aposta no registro e na difusão da produção artística e cultural da região do Cariri, Sul do Estado do Ceará, como forma fortalecer a identidade do povo do Cariri. Janinha é uma pequizeira, para quem é do Crato/CE isso é sinônimo de guerrilheira, ela é uma dessas mulheres fortes e defensoras do “cratinho de açúcar” .

Alexandre Lucas - Quem é Janinha Brito?


Janinha Brito - Sou uma apreciadora de arte e cultura do Cariri, cantora, blogueira e articuladora cultural.


Alexandre Lucas - Quando teve início seu trabalho artístico?


Janinha Brito - Em 1993, nos bares do Cariri, fazia dupla com Júnior Rivadávio, viajava com shows de MPB.


Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Janinha Brito - Música Popular Brasileira, especificamente a Nordestina, trazida pelo meu pai.


Alexandre Lucas - Como você vê a relação entre arte e política?


Janinha Brito - Vejo avanços, o governo Lula abriu portas para a arte e cultura, valorizando mais a arte popular, o ensino de artes nas escolas, projetos, eventos etc.
Muito pode ser feito ainda, mas já podemos hoje nos projetar a viver de arte.


Alexandre Lucas - O que é música para você?


Janinha Brito - Me emocionei com a pergunta...música é o meu sentido, minha razão.
Meu pai era músico, cada fase da minha vida tem uma forte lembrança musical, ela será minha profissão, a faculdade que farei, meu lazer, como sou lembrada pelas pessoas, alimento da minha alma!


Alexandre Lucas - Você vem dedicando parte do seu tempo a manutenção do Blog Cultura no Cariri. Como surgiu a idéia do Blog?


Janinha Brito - Pela necessidade de um espaço na internet onde pudéssemos saber mais sobre a cultura da nossa cidade.


Participei de um seminário do MINC, e do Entre Pontos, lá nos perguntaram sobre como saber mais sobre a música e cultura da nossa região, se estávamos organizados em uma associação ou tínhamos disponível algum material sobre a carreira na internet, percebi então nossa carência de registros e divulgação do trabalho, desde então tenho, com amor, me dedicado junto de grandes parceiros a atualizar o "Cultura no Cariri".


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?


Janinha Brito - Resgate da história de grupos de reisados, divulgação de novos artistas, de projetos sociais, etc.


Alexandre Lucas - O que é a cultura no Cariri?


Janinha Brito - É a essência do "ser" nordestino, a mistura da história, tradição, música, dança, poesia da forma mais pura e verdadeira.


É a nossa chapada do Araripe, nosso reisado, as lendas sobre as passagens de Lampião e seu bando contadas por nossos avós, é a rapadura e nossos velhos engenhos, o pequi, as romarias ao "padim Ciço", é a festa do pau da bandeira, procissão de Nossa Senhora da Penha, a feira, é Patativa, é Luiz Gonzaga!


Alexandre Lucas - Como você vê a participação dos músicos e interpretes do Cariri nos grandes eventos da Região?


Janinha Brito - Já pensei muito sobre isso, nossa exclusão deve ser transformada em uma grande guerrilha artística, idéia do Cacá Araújo e direcionada aos atores de teatro quando sentiram-se excluídos de uma das maiores manifestações culturais da região, além do mais, a tal "grande" festa vem perdendo o caráter cultural a cada ano, temos de nos organizar para melhor reivindicar nossos direitos.


Alexandre Lucas - O que é preciso para democratizar a diversidade musical?


Janinha Brito - A internet é uma grande parceira dos artistas, a forma mais acessível e dinâmica de apreciar e divulgar o trabalho. Temos muito ainda a explorar!


Alexandre Lucas - Como você enxerga o cenário musical do Cariri?


Janinha Brito - Precisa ainda profissionalização, oportunidades, incentivo material, organização e valorização!


Alexandre Lucas - Quais seus próximos projetos?


Janinha Brito - Voltar a cantar um repertório com músicas nordestinas e compositores caririenses, expandir o Cultura no Cariri, criar uma associação dos músicos do Cariri.

Oswald Barroso - O desbravador da história popular do Ceará




Se os bandeirantes estiveram a serviço do Rei, Oswald que é de outro tempo esteve a serviço das camadas populares, descobrindo e esculpindo a história do povo do Ceará pisoteada pelas elites econômicas. Entre travessias e encruzilhadas percorreu os 184 municípios cearenses para transformar em arma emancipatória a história e a arte do seu povo.


Alexandre Lucas - Quem é Oswald Barroso ?

Oswald Barroso - É um multi-artista pesquisador que tem procurado se dedicar à causa dos oprimidos, atuando como uma espécie de griô, ou um exu, como queiram, sempre em travessias e encruzilhadas: vendo, ouvindo, sentindo a vida popular, traduzindo estas vivências em formas artísticas, para difundi-las em novos caminhos. Comecei com desenho, pintura e poesia. Depois desenvolvi um bom trabalho como letrista e cheguei mesmo a tentar ser músico. Até que me fixei no teatro e fiz ainda muitos vídeos documentários, chegando mesmo a gravar uma experiência em ficção, O Filho do Herói, para a TV Educativa, atual TVC. Hoje gosto também de fotografar, como uma forma de anotação etnográfica. No teatro, passei 18 anos no Grita, 10 no Boca Rica e agora estou do Teatro de Caretas. Fiz de tudo, trabalhei como ator, diretor, dramaturgo sempre, cenógrafo, iluminador etc. No jornal, fiz reportagem, ensaios e crítica de arte e, na universidade, ensino música nas tradições populares, estética, cultura brasileira e antropologia da arte. Admiro o homem renascentista, que transitava entre artes, saberes e culturas sem a menor cerimônia. Quem sabe estejamos retomando esse caminho.

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Oswald Barroso - Em 1964, depois que um acidente de trânsito encerrou minha carreira de atleta. Eu tinha 16 anos e havia sido convocado para a seleção cearense de vôlei. Uma camionete rural partiu minhas duas pernas, fraturas expostas, e mudou meu destino. Passei mais de um ano acamado e outro ano em tratamento hospitalar no Rio de Janeiro. Foi a oportunidade de conhecer toda a literatura brasileira, principalmente a poesia, e muito do modernismo europeu. Eu lia, escrevia e desenhava sem parar. No Rio de Janeiro, onde passei o ano de 1965, entre uma internação e outra no hospital, freqüentei a vida cultural da cidade: museus, bibliotecas, cinemas, shows, festivais. Voltei muito informado à Fortaleza. Já em 1966, no Colégio São João, me liguei ao grêmio e formamos um grupo de estudos marxistas. No ano seguinte, descobrimos articulações com o pessoal de esquerda, não só com o movimento estudantil, mas com o movimento popular, pescadores e operários de fábrica, no caso, porque eram eles que a gente queria retratar em nossa arte.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Oswald Barroso - No início por influência do meu pai, poeta modernista, que colocou meu nome em homenagem a Oswald de Andrade, foram os poetas modernistas brasileiros: o próprio Oswald, Mário, Carlos Drummond, Vinícius de Morais, Manoel Bandeira, Solano Trindade, com destaque João Cabral (considero Morte e Vida Severina o maior texto dramático brasileiro), os cearenses, principalmente: Antônio Girão, Aluízio Medeiros e Jáder de Carvalho. Entre meus professores: André Hagüette, Francisco Alencar e Diatahy Bezerra de Menezes. Entre amigos de geração, parceiros, me influenciaram diretamente: Adriano Espínola e Rosemberg Cariry. Dos romancistas e intelectuais brasileiros: Graciliano Ramos (à lucidez de quem atribuo ter sobrevivido às torturas, pois graças à leitura de Memórias do Cárcere nas vésperas da prisão tive um comportamento adequado.), Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Darcy Ribeiro. Mas também: Gregório de Matos Guerra. Entre os latino-americanos: Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano, Ciro Alegria, Juan Rulfo, Jorge Luis Borges etc. Teatrólogos: Brecht, Meyerhold, Maiakóvski, Gorki, Peter Brook, Ariane Mneouchkine, os teatros tradicionais de modo geral etc. Mestres tradicionais: Sebastião Cosmo, Aldenir Callou, Manoel Ramos, Manoel Torrado, Biu Alexandre, Apolônio Melônio, João de Cristo Rei etc. Ainda: Joseph Campbell, Iung, Levi Strauss, Fritjof Capra. E mais: Van Gogh, Picasso, Portinari, Glauber Rocha etc.

Alexandre Lucas - Como você vê a relação entre arte e política?

Oswald Barroso - Se a gente fala de política no sentido de que “o homem é um animal político” (nesse sentido, aliás, todo animal é político, porque disputa território), então a política sendo uma dimensão do humano é, por consequência, uma dimensão da arte. É inquestionável que toda obra artística, sendo expressão do ser total, que por isso mais que qualquer outra manifestação do espírito humano implica subjetividade, traz em si uma visão de mundo expressa pelo autor e lida de algum modo pelo receptor. Arte sem significado, sem posicionamento sobre a realidade, sem tomar partido, não é arte, está mais para enfeite, arabesco, confeito e olhe lá.

Alexandre Lucas - O que é arte engajada para você?

Oswald Barroso - Pra mim, portanto, toda arte é engajada. Agora o artista escolhe em que causas engajar sua arte. Hoje, a maioria prefere engajar em campanhas comerciais. Vender o laptop da Xuxa, o tênis da Adidas e outros produto tais, como nas novelas e nos especiais de Natal da Globo. Mas uns preferem engajar em campanhas de caridade, outros em campanhas de saúde pública, usar camisinha, ou de incentivo ao pagamento de impostos etc. Alguns em campanhas de conscientização política, como os CPCs da UNE, ou o Teatro do Oprimido do Boal. Outros ainda em campanhas eleitorais para determinados candidatos. Outros, pelo contrário, em mostrar que a arte é biscoito fino para poucos eleitos e não diz respeito às massas, por isso deve ser financiada pelo governo. Aqueles mais conscientes, neste último caso, se contentam com a compra de suas obras por milionários. E assim vai. Cada um escolhe seu engajamento.

Alexandre Lucas - Qual o papel social do artista?

Oswald Barroso - Nas sociedades paleolíticas todas as pessoas fazem arte. Entre os índios brasileiros, por exemplo, isto acontece, e é muito bom. Não se distingue o artista. No neolítico aparece o artista, como artífice. É quando a arte se distingue entre os outros ofícios. Aparecem as várias artes de ofício. O papel do artista, então, é trabalhar para a sociedade, atender a demanda da sociedade. Penso que este deve ser seu papel social até hoje, o de um trabalhador para o bem da sociedade, ou seja, atender à demanda social. Agora, ele deve saber para quem trabalha. Se para o Rei, como os atores da comedia del’arte, ou para o populacho, como os jograis e saltimbancos? No caso, se para os empresários e banqueiros, ou para o povo e os movimentos populares? Eu gosto muito de trabalhar para os assentados (como fiz no projeto sertão da tradição), as dramistas (como no projeto dramas do litoral leste), os romeiros, os sem-terra, os sem-teto etc., mas trabalho também para algumas editoras ou instituições públicas, que não me cerceiem a liberdade de expressão. Quase sempre trabalho sob demanda. Por minha iniciativa mesmo tenho trabalhado pouco. Falta tempo, embora não falte planos.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Oswald Barroso - Acho que tenho contribuído para dar visibilidade à cultura popular do Ceará, principalmente aos reisados e às romarias, mas também ao artesanato. Isso não é pouco ao se levar em conta que a elite do Ceará, especialmente, sempre deu às costas ao seu povo. Quando eu nasci, nossa elite ainda estava no auge de uma cruzada para “civilizar” o Estado, lutando para fazer desaparecer tudo quanto é traço de cultura indígena e africana do nosso cotidiano. Esse horror ao popular ainda é muito forte na Fortaleza do Leste, que se espelhava em Londres e Paris, depois em Miami e agora em Dubai (embora ainda haja quem vá à Disney). No teatro, tenho tentado mostrar que temos referência para construir uma linguagem cênica nossa, original, sem copiar o estrangeiro ou o sul maravilha.


Alexandre Lucas - Você deu uma grande contribuição para a pesquisa científica no processo de redescobrimento, registro e discussão sobre as manifestações da “cultura do povo”no Estado do Ceará ?

Oswald Barroso - Tenho muitos motivos de orgulho na vida, um deles é ser doutor em reisado e outro é ser cidadão honorário de Juazeiro do Norte. Já viajei por todos os 184 municípios do Ceará, vários distritos e inúmeras localidades de muitos deles. Dezenas, visitei várias vezes. Outros, dezenas de vezes, como Juazeiro do Norte. Nestas pesquisas, o que eu fiz foi ouvir histórias. Eu sempre viajei para colher boas histórias. Não eram pesquisas científicas propriamente ditas. Não acredito em ciência objetiva, em conhecimento objetivo. Trabalhei inicialmente como repórter de O Povo. Vivia viajando por Fortaleza, desde o centro até a periferia, e pelo interior do Estado, entrevistando gente, colhendo boas histórias e dando a elas a forma da minha arte.
Depois inventei de ser pesquisador, trabalhando na Secult e, em seguida na Universidade, onde continuei fazendo o mesmo, colhendo mitos, lendas, histórias de trancoso, de mistério, do arco da velha, de lutas populares, de assombração, dramas pessoais, aventuras, poesia que eu via, ouvia, imaginava, vivia. Às vezes, essas histórias eu resolvia viver eu mesmo, me aventurava, para depois escrever, desenhar, reviver. Vivenciei muitas das peripécias que conto. É bom porque a gente não perde um detalhe. Almanaque Poético é um livro assim.

Alexandre Lucas - O que representou e representa para você o trabalho de pesquisa?

Oswald Barroso - É uma forma de viver, uma razão para caminhar, a busca de um mistério, a tentativa de compreender o mundo ou talvez apenas de viver de uma maneira desafiadora e prazerosa.
É também a fonte de toda a minha criação e imaginação. Nenhuma imaginação solitária é mais poderosa do que a imaginação do inconsciente coletivo.

Alexandre Lucas - Fale dessas pesquisas?

Oswald Barroso - Embora já conhecesse a cultura popular desde menino, da feira do Ipu, onde eu passava as férias, e da periferia do grande Recife, onde vivi na clandestinidade, foi numa romaria ao Juazeiro do Norte que se deu meu grande alumbramento. Daí começaram as pesquisas sobre os mistérios do povo romeiro: cordelistas, xilógrafos, imaginários, profetas, beatos, conselheiros, cantadores, mestres de reisado, santos etc. Aprendi que há uma religião que não é o ópio do povo mas que é dele, nascida de sua alma e por seu espírito alimentada e passei a querer desvendar sua lógica e seus mistérios. Participei de pesquisas seguidas: Artesanato Cearense, Literatura de Cordel, Reis de Congo e Reis de Bailes, Caminhos de São Francisco, Atlas da Cultura Cearense, Festas Populares do Ceará, Memória do Caminho, Sertão da Tradição, Terreiro da Tradição, Mãos Preciosas, Dramas Populares do Litoral Leste, Reis Assentados, Guia Turístico do Ceará, Máscaras Brincantes etc. Como jornalista, escrevi mais de 400 textos, entre artigos e reportagens, a maioria dos quais versando sobre assuntos da cultura cearense. Uma parte das histórias colhidas ainda não foram processadas e outra parte, mesmo transfiguradas, ainda não foram publicadas.

Alexandre Lucas - Como você analisa a nova conjuntura para as políticas públicas para cultura no país?

Oswald Barroso - Penso que os pontos altos do Governo Lula foram as políticas externa e cultural. Gilberto Gil incluiu o Brasil e sua diversidade cultural na ação do Minc., além de solidificar uma prática de editais. Juca foi adiante e queria modificar a Lei Rouanet, assim como a Lei de Direitos Autorais. A nomeação da nova Ministra da Cultura Ana Holanda foi uma reivindicação da elite do Rio-São Paulo que se opõe a esse caminho. Ela surge como representante do pessoal que quer um ministério para os artistas midiáticos e para a indústria cultural. Em compensação, acabo de saber da nomeação do Francisco Pinheiro para a Secult Ce., fato que aponta em sentido contrário, ou seja, para uma política de cultura ampla e diversificada.

Alexandre Lucas - Nas sociedades primitivas a arte não se separava da vida. Você acredita na necessidade deste reencontro arte-vida?

Oswald Barroso - Com certeza, penso que caminhamos para um novo projeto civilizatório onde não apenas a arte se desfragmente, refundindo-se em suas diferentes linguagens, como se reintegre à vida, de tal modo que desapareça, até mesmo, a palavra arte, porque tudo será arte. Como fazem os índios, que dedicam a vida, integralmente, a encher de beleza o universo.

Alexandre Lucas - Qual a importância dos Coletivos de artistas dentro da produção estética e artística?

Oswald Barroso - É total, porque os grandes movimentos artísticos, a melhor arte, embora haja o talento individual, sempre é produção da coletividade. As grandes escolas, os grandes estilos, as grandes criações, o grande saber, o grande fazer artístico é coletivo. O gênio só brota no coletivo. O talento individual precisa de terreno propício para florescer. Nas culturas tradicionais isto é muito evidente.

Nívia Uchôa - O cotidiano como uma poética de luz

Uma série de entrevistas com artistas, produtores e gestores culturais serão realizadas pelo Coletivo Camaradas e disponibilizada para blogs e sites. A série entrevistará nomes como Jorge Mautner, Oswlad Barroso, Vitória Regia Turin, Lula Gonzaga, Hamurabi Batista, Augusto Bitú, Norma Paula, Alexandre Santini, Marlon Torres. A série inicia entrevistando Nívia Uchôa.
Nívia Uchôa tem um trabalho que vem sendo reconhecido nacionalmente, com uma poética própria e cheia de luz, a artista consegue a partir cotidiano das camadas populares criar poesias visuais com a sua fotografia. Natural de Aracati, mas desde a infância reside no Cariri do Ceará.

Alexandre Lucas - Quem é Nívia Uchôa?

Nívia Uchôa - Fotógrafa há 16 anos, com pesquisa etnográfica e antropológica na Região do Cariri, Ceará e no Brasil com uma documentação sobre relação do ser humano com água com projeto Água Pra que te quero! Formação acadêmica Geografia e atualmente sou professora substituta de Fotografia e Cinema da Universidade Regional do Cariri URCA na Escola de Artes Violeta Arraes. Fundadora do grupo de fotografia POESIA DA LUZ

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Nívia Uchôa - Quando iniciei minha carreira em 1994, meu trabalho já veio carimbado com um olhar artístico, pois minha estética já se consolidava com uma busca pelo meu olhar autoral, pelo meu traço.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Nívia Uchôa - História da Fotografia , na fotografia Contemporânea, cinema e pintura e a teoria quântica, mas, tenho influencias da fotografia do Cartier Bresson, Sebastião Salgado, Tina Modotti, Celso Oliveira, Tiago Santana, João Roberto Ripper, Cristiano Mascaro, Maureen Brisilliat, Frederico Fellini, Akira Kurosawa, Michelangelo Antoinioni, Glauber Rocha, aqui no Cariri, tenho influencias da profusão artística, do artesanato, da cultura da tradição oral, da pintura do Luis Karimai, do fotografo Gilberto Morimitsu e da influencia do cotidiano desses lugares cheios de identidade e polissêmicos.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Nívia Uchôa - Penso que ainda falta mais esforço para que ambas dialoguem com mais freqüência, o artista não pode ficar distante da política e ou vice versa, a política ainda é vista como clientelista, ou melhor, ela ainda é clientelista, dai dificulta fazer a arte e política andarem mais próximas, pelo menos eu não me utilizo dela para minha arte. Mais em nível universal várias vertentes políticas pensam a arte.




Alexandre Lucas - O que representa a fotografia na sua vida?

Nívia Uchôa - Luz, sobretudo vida, não viveria longe da fotografia, da luz que a faz ser. Não seria Nívia Uchôa se não fosse à fotografia, não conduziria meu caminho com tranqüilidade se não fosse a fotografia. Fotografia é o alimento da minha alma.

Alexandre Lucas - Você tem um trabalho de militância política na área da cultura. Isso reflete na sua produção estética e artística?

Nívia Uchôa - Minha militância é mais pelo trabalho e a produção de uma coletividade no mundo da arte, pois penso que sem esse olhar mais coletivo, seremos seres cada vez mais individualistas, a arte é como a água tem para todos e todas, se essa fonte secar sofreremos com isso, quanto a saber se isso reflete em minha produção estética e artística, nunca parei para pensar sobre isso, pois por mais que falo em coletivo, ainda tenho um trabalho solitário, as pessoas não gostam de trabalhar juntas, elas acham que vamos roubar suas idéias e seus ideais, mas, como tenho um traço próprio, não tenho medo de que me roubem, pois não tem como roubar a luz que vejo, a luz que recorto da realidade, essa que nos segue e persegue em um piscar de olhos.

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?

Nívia Uchôa - Bom, fiz vários trabalhos, mas, citarei aqui os que me deram prazer em realiza-los. Fotografar Juazeiro do Norte-Ce esse faço naturalmente em meu cotidiano, em 1997 fiz um trabalho com um amigo Antonio Vargas, fomos fotografar a rampa de lixo de Jangurussu em Fortaleza-CE, trabalho esse que me emocionou profundamente pela forma que essas pessoas viviam literalmente no lixo, esse trabalho foi exposto na UFC, Grenoble, Paris, Bruxelas, Lion. Em 2000 fiz uma exposição que a Dodora Guimães curadora da exposição, intitulou de Gentes do Cariri, foi com esse trabalho que fiquei conhecida no Ceará, o qual pude expor no Palácio da Abolição no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela em Fortaleza, em 2005, 2006 e 2007 fiz um trabalho para a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará sob a gestão da Cláudia Leitão e pude viajar o Ceará quase todo, isso me rendeu algumas publicações entre elas Memória do Caminho do Oswald Barroso e o Guia Turístico Cultural do Estado. Iniciei minha trajetoria no audiovisual e cinema realizando alguns curtas como Adeus meu bem, Catadores de Piqui, Quarta Parede, Quero viver igual a um beija-flor. Em 2010 participei de uma coletiva de 30 anos de Fotografia da Curadora Rosely Nakagawa nos Centros Culturais Caixa Economica Brasilia, São Paulo, Salvador e Curitiba, na ocasião tive a oportunidade de esta ao lado dos grandes fotografos brasileiros Cristiano Mascaro, Thomaz Farkas, Mário Cravo Neto, Pedro Karp Vasquez, Luiz Braga, Celso Oliveira, Tiago Santana, Guy Veloso, entre outros famosos no universo da fotografia brasileira e finalmente um trabalho que me consolido através da antropologia visual, meu mais novo trabalho intitulado Água pra que te quero! Esse esta em fase de conclusão e conto a história de 3 bacias hidrográficas do estado do Ceará através da imagem e de uma pesquisa que fiz com uma equipe em 2 anos. Esse trabalho será lançado em março e constará de um livro e um vídeo onde conto a relação do ser humano com água. E por fim faço parte atualmente da Rede de Produtores de Fotografia no Brasil o qual realiza várias atividades no campo da produção da fotografia brasileira como realizadores, agitadores culturais e comunicadores.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?
Nívia Uchôa - Penso que a fotografia está além de tudo a serviço do social, devemos mostrar nosso universo de cotidiano através das imagens, sobretudo quando devemos e podemos relatar a arte através dele. A imagem fotográfica DIZ e com isso ela pode denunciar, conduzir, salvar, ela nos faz acreditar ser ela própria sem nada esconder, a fotografia esta além do que se pode imaginar, ela diz por si só.

Alexandre Lucas - Você acredita que a Academia elitiza a arte?

Nívia Uchôa - Bem, penso que arte se auto-elitiza, a academia ensina arte como está nos livros, à arte esta desde seu inicio, desde quando o ser humano pode se comunicar, arte pela academia é conceito.

Alexandre Lucas - Quando a arte humaniza?

Nívia Uchôa -
Quando ela sai da individualidade e mostra seu lado coletivo, quando ela não cai no amadorismo, mas, quando ela busca saber, propor, dizer para que ela veio, sair dos conceitos e ir para prática.

Alexandre Lucas - Como você enxerga os coletivos de artistas?

Nívia Uchôa - Penso que ainda estamos muito atrasados aqui no Cariri, mas nacionalmente e mundialmente temos vários coletivos. A idéia de se coletivizar é bem interessante, pois precisamos do olhar dos outros para produzirmos e assim saber quem somo nós.

Alexandre Lucas - Como você ver atuação do Coletivo Camaradas e qual a sua relação com esse grupo?

Nívia Uchôa - Vejo com uma força grande, mudou muito aqui em nossa região, o Coletivo Camaradas pensa a arte e a política, pensa os trabalhos a parir de um todo. Minha relação com o Coletivo ainda não é de uma total militância por conta da minha agenda que tem sido intensa, mas, quero e posso me dedicar muito mais.

José Cícero - Um guardião da história e um poeta da "Aurora"

A Poesia que veio com a malota...fez do menino poeta militante. José Cícero tem uma longa militância política e cultural, alguns livros publicados. Um homem de muitas crenças e construtor de uma nova Aurora para o seu povo. Atualmente Secretária Municipal da Cultura, José Cícero fala da sua trajetória e das suas convicções.


Alexandre Lucas - Quem é José Cícero?


José Cícero - Um homem simples e de convicções, profundamente apaixonado pela vida e pela natureza. Alguém, que ainda consegue acreditar no gênero humano, na força da inteligência vencendo a ignorância. Na visão holística do mundo ante a necessidade da sua construção histórica e da felicidade coletiva. Enfim, um homem quase à moda antiga; um romântico na acepção mais lídima do termo, a pastorear seus sonhos e suas utopias como um visionário a carregar nas próprias mãos a perspectiva de um mundo novo. Um mundo sem nenhum tipo de fronteiras, sem violência e nem exploração. Quem sabe o mundo dos poetas altissonantes... Como um vez pensou Guevara, Chico Mendes, Tereza de Calcutá e tantos outros que se eternizaram na história pela força das suas idéias e do exemplo. Como de resto, um homem disposto a aprender sempre, até com seus erros e vacilações.

Alexandre Lucas - Coletivo Camaradas: Quando teve seus primeiros contatos com a poesia?

José Cícero -A poesia entrou na minha vida quando descobri no fundo da ‘malota’ onde minha mãe guardava suas coisas mais importantes daquele tempo; uma caixa de versos – cordéis amarelados que mamãe mantinha escondidos desde a sua época de donzela. Apaixonei-me primeiro pelas figuras: belas xilogravuras das capas. Minhas primeiras leituras foram visuais. Posto que naquela idade eu não estava ainda devidamente alfabetizado. Mas aqueles desenhos povoavam a minha imaginação. Ao ponto de eu também construir as minhas próprias estórias. Vez por outra, minha mãe lia para nós( meu pai e meus irmãos pequenos) alguns daqueles cordéis. E como eu queria sempre mais, tive que aprender ler como em toque de caixa. De modo que posso afirmar que fui alfabetizado pela literatura de cordel, soletrado: Coco Verde e Melancia; Pavão Misterioso; a Briga do Cachorro com o Gato, a chegada de Lampião no Inferno, Jerônimo o Herói do Sertão entre outros clássicos do gênero.

Assim fui pegando gosto pela poesia popular por meio do cordel tipografado por José Bernado da Silva, com suas rimas, musicalidade, ritmo e sextilhas.

Nas segundas-feiras(dia da feira-livre na Missão Velha) ia com minha mãe para ajudá-la a carregar as compras. Por esse serviço ela me pagava um cordel que eu mesmo escolhia no ‘vendeiro’ no chão da rua. Passava o resto da semana torcendo para que a segunda chegasse só para poder receber o meu novo cordel. Algumas vezes ficava triste: pois o dinheiro era tão curto que mal dava para a feira e, não sobrava nada nem para o meu verso. Voltava desolado e o peso da feira nos meus ombros de menino parecia multiplica-se por mil.

Com o tempo comecei a fazer minha própria poesia. Um dia na 8ª série no ginásio paroquial a professora(Socorro Avelino) solicitou que cada um dos alunos construísse um poema. Leu a minha em voz alta, quase morri de vergonha. Sempre fui um sujeito tímido, compenetrado, introspectivo... De repente ela lia meus madrigais e eu me sentia como se despido estivesse no meio da sala. -“ Oh rainha dos meus sonhos/ onde estais tu agora/ o meu quarto está frio/como a noite lá fora...” este foi um dos meus primeiros poemas que lemrbo. No final ela me chamou de lado para saber mais sobre o meu pendor pela poética. Dizendo-me que a minha poesia era boa. Eu acreditei e, desde então, fiz um pacto com a poesia. Comecei a freqüentar com mais assiduidade a modesta biblioteca do ginásio. Abracei os românticos... até conhecer Vinícius, Drumond, João Cabral, Quintana, Augusto dos Anjos, Neruda, Cecília, Garcia Lorca e tempos depois Patativa. Depois, quando estudante do Colégio Agrícola do Crato nos idos de 84 do século passado eu mergulhei de cabeça literalmente nas letras. Lá a biblioteca era muito mais farta. Uma pena que não podíamos tocar o livro, vê-lo na estante, sentir seu cheiro em conjunto. Esquadrilhar com os olhos seus títulos em letras coloridas e garrafais. Tudo tinha que ser feito pela janela por meio de um catálogo datilografado caindo aos pedaços de tanto uso. Aquilo para mim era um martírio...Uma noite tive vontade de adentrar a biblioteca, mas me contive, não tive coragem...

Quando entrei no PC do B por conta da campanha da Frente Brasil Popular em meados de 89 primeira eleição de Lula x Collor fiquei mais seletivo, sorvendo os clássicos da literatura mundial. Dali, para o meu primeiro livro foi apenas uma questão de tempo. A poesia tinha invadido de vez a minha vida, tanto quanto a minha alma. E eu de certo modo me entreguei a ela como quem se apaixona pela primeira vez. Um autêntico vate inveterado entregue a engenharia artesanal do verso livre. Abracei a poesia moderna como uma solução metafísica para todas às agruras e o sentimento do mundo por intermédio da palavra escrita. E confesso que desde então, matenho uma relação de amor com o ato de tecer minhas ilações através da palavra escrita. A solidão que escolhi pra mim seguindo os conselhos de Nietzsche tem sempre a poesia, a escrita e a leitura em geral como companheiras inseparáveis. Penso e quero morrer um dia desses em companhia de um livro bom...

Alexandre Lucas - Como você caracteriza sua poesia?

José Cícero - Como a minha melhor e, quase única maneira de dizer para mim mesmo e para os outros como realmente vejo o mundo e, sobretudo como o sinto no mais profundo do meu Eu. Ou ainda quem sabe, como certa feita dissera Pessoa: a minha maneira de estar sozinho.
Minha poesia é por fim, todo o subjetivismo de alguém que aspira, malgrado o ato solidária de escrevê-la, gritar aos quatro ventos suas verdades indignadas... Em suma, presumo que a minha poesia é a longarina-mestra de tudo o que penso, falo e escrevo. Meu racionalismo revolucionário, louco, ensandecido, insubmisso e supra- físico, ou tudo junto, como uma atitude audaz de inserção do mundo.

Alexandre Lucas - Quais as influências no seu trabalho poético?

José Cícero - Como disse Platão, quase tudo na vida já foi pensado um dia, diria eu que a minha poesia é multifacetada em vários aspectos. Algo resultante de toda uma gama de leituras que fiz ao longo dos anos. E que ainda continuo. Portanto, densamente povoada e influenciada desde a literatura de cordel na sua sonoridade quase musical, como também pela poesia romântica expressa na plasticidade do seu aspecto vernacular e, finalmente pelo modernismo o que é possível perceber na questão da sua liberdade construtiva. Acho que a poesia concreta também ocupou durante muito tempo a base do meu crânio. Aliás, por conta disso ainda a vejo hoje.

Citar nomes é complicado, porém não posso deixar de declinar(para não fugir a regra) os de Drumond, Clarice, Leminski, Patativa, Augusto dos Anjos, Cecília, Vinícius, Quintana, Ledo Ivo, Bocage, Bilac, Jorge de Lima, Florbela, Neruda, Cassiano Ricardo, José Alcindo Pinto, Maiakosviski, Tiago de Melo dentro muitos outros. Inclusive da chamada prosa poética. O que se torna quase impossível citar todos eles por uma questão de tempo e de espaço. Minha poesia é, por conseguinte uma imensa cocha de retalhos. Um caledoscópio imagético de coisas e sentidos os mais diversos possíveis. Contudo, dizem que possuo um estilo próprio e diferente. Como de resto suponho que toda escrita é única, a menos que não seja verdadeira. Em linhas gerais, todos os poetas se completam e no fundo é isso que torna toda poesia dinâmica, sensorial. Um patrimônio universal da fauna humana.

Alexandre Lucas - Quais as dificuldades para a publicação e circulação de obras literárias?

José Cícero - Num país que não valoriza efetivamente a leitura e, tampouco a produção do conhecimento, assim como seus poetas e escritores. Fica cada vez mais difícil falar do processo da publicação literária sem no mínimo, deixar escapar uma pontinha de revolta e indignação.

Assim como não há mercado para a poesia também não existe uma política de valorização e incentivo à produção em geral. Os chamados “escritores marginais” ou ativistas da literatura alternativa sofrem, portanto toda sorte de dificuldade para levar seus escritos adiante. Quando à duras penas conseguem o milagre de uma produção independente esbarra na questão da não-circulação. Terminamos assim escrevendo para nós mesmos. Neste contexto é que ressalto o valoroso papel agora desempenhado pela Internet. A rede vem conseguindo aos poucos democratizar muito daquilo que até recentemente se constituía como um privilégio das elites. No entanto, também serve à guisa de mídia burguesa aos espertalhões do capitalismo livresco(leia grande editoras) que conseguem maquiar e produzir pseudoescritores com seus supostos best sellers no mundo todo. Exemplos, inclusive no Brasil é o que não faltam. Ora, até Bruna Surfistinha consegue figurar na lista dos mais vendidos. Uma verdadeira afronta à inteligência da nação. Uma clara inversão de valores. Será que Lobato não estava certo quando afirmara que um país se faz com homens(mulheres) e livros? Ao meu juízo o livro tem que virar uma mania nacional assim como os BBBs, as bandas de forró descartáveis e as novelas da vida. É urgente colocar o livro na cesta básica do brasileiro fazendo com que deixe de ser um produto caro só ao alcance das elites. A leitura precisa se transformar numa prioridade política, inclusive dos próprios professores que no Brasil lêem tão pouco quanto o próprio alunado.

Alexandre Lucas - Você é autor dos livros Ecos da Saudade(94); Serra Azul e outros ilustres filhos d'Aurora(96); Enxada, Foice e Suor (2007) e tem mais obras inéditas como Abstrações do Acaso; Minhas metáforas cotidianas e miscelânea poética de uma vida pela metade. Quando pretende publicar?

José Cícero - Toda vez que a gente conclui uma obra, vem logo aquela sensação e o desejo de vê-la publicada incontinenti. Não tem jeito. Cada livro escrito, portanto, é como se fosse um filho pedindo-nos permissão para viver, crescer e ganhar o oco do mundo. Mas, por tudo que já expus anteriormente, não é tarefa fácil a publicação. Creio que escrever se tornar muito mais fácil do que publicar. Coisas do Brasil... Não sei lá fora, posto que sou um prisioneiro compulsivo aqui deste lado do Equador. Mas sei que não está certo.

Assim, não sofro mais como no passado com esta angustia seca de ver meus escritos dormitando na gaveta como uma sentença de quase morte ou no arquivo do computador.
Até porque neste momento estou totalmente voltado para o meu trabalho à frente da Secretaria de Cultura de Aurora. Uma coisa de cada vez. Há um momento para tudo né... Quem sabe, de repente, não mais que de repente, este projeto de publicação poderá aflorar e vir à tona. Isso porque às vezes o que se escreve nos domina e nos dar ordem.

Além disso, estamos articulando para breve a publicação do 3º número da Revista Aurora, um informe de cunho cultural, histórico, filosófico e literário.

Curioso saber que podemos a qualquer momento irmos ao banco da esquina e contrair empréstimo para uma série baboseiras comerciais e até para outros fins menos nobres. Porém, não existe uma linha de crédito especial para uma questão tão sublime e estratégica para o desenvolvimento do país como é a publicação de obras literárias da população. E ainda falam que estão investindo no hábito da leitura. Coisa para “inglês ver” e colocar no papel. Ninguém percebe que o faz-de-conta não ajudar muito? É só olhar e avaliar com os olhos da razão o que está a ocorrer com a nossa educação. No entanto, os números nas escolas estão uma maravilha...

Alexandre Lucas - Como você ver a relação arte e política?

José Cícero - Como duas faces de uma mesma moeda. Algo quase indissociável partindo do princípio de que representam duas importantes variáveis dentro do contexto das vicissitudes sociais. Toda arte, a meu ver, precisa ser engajada e o é, mesmo que o artista não o seja conscientemente. Na medida em que toda arte expressa uma realidade no geral, assim como um pensamento em particular. Uma somatória de experiências, ilações, inventividades, concepções imanentes, sonhos, desejos, pensamentos, utopias, sensações, gestos gramáticos etc. As visões do artista segundo sua ótica particular. A política por seu turno, é uma ciência das mais substantivas para o processo de evolução do homem em sociedade. E como tal precisa dialogar diuturnamente com o fazer artístico, sob pena de não corresponder a realidade dos fatos que coadunam com a realidade em xeque. Não há nenhuma espécie de dicotomia natural entre a arte e a política e, tampouco incompatibilidade de gênios. Quem ao contrário pensa se engana, quanto ao papel e a verdadeira importância de ambas no processo da transformação social e da criação do homem novo. A política sem o seu viés artístico é um equívoco desmedido, assim como a arte despolitizada é um engodo. Uma farsa, um aleijão em potencial. Digamos que todo artista é uma animal político com especialidade, em face do seu poder transformador das consciências das massas; assim como da realidade em seu entorno.

Alexandre Lucas - Sua poesia tem a marca da sua militância política?

José Cícero - Imagino que sim. Minha poesia é, por assim dizer, uma bandeira de luta desfraldada em favor e em defesa das causas que sempre acreditei serem fundamentais para a melhoria dos homens, da sociedade humana e do planeta. Não sei como alguém poderá conceber a literatura sem este viés quase axiomático em favor do bem e do crescimento humano nos seus mais diferentes aspectos. Minha poesia é essencialmente porpositiva e, mesmo que eu não quisesse ainda assim teria o DNA da minha luta militante dispersa em todos estes anos. No entanto, não posso prescindir de ressaltar o seu aspecto lírico, sensorial, romântico, erótico, quase operístico do ponto de vista da linguagem. O que em essência são, por assim dizer, atributos inerentes a toda poesia que se preza e se afirma literariamente falando. Minha poética é minha clava forte! E isso é tudo...O resto fica a critério do leitor. Sim. Porque a poesia é subjetiva ao extremo. Podemos cada um lê-la e compreende-la do seu jeito. Seria uma espécie de semiótica poética, metalinguagem... o máximo da interatividade e do leitor ativo construindo o sentido do poema com o autor.

Alexandre Lucas - O Ministério da Cultura vem fazendo uma revolução na concepção e na gestão das políticas públicas para a cultura no país?

José Cícero - A crítica fundamentada sempre será construtiva. Razão da nossa(os ativistas culturais) no tocante a esta verdadeira engenharia do Minc na sua tentativa às vezes macarrônica e mirabolante em se tentar dinamizar as políticas públicas para o país. No governo Lula diria que os avanços já são sentidos, porém são ainda iniciativas a meu ver, tímidas demais em face das grandes demandas que o Brasil apresenta. Estamos(estávamos) tão atrasados neste particular cultural que o pouco que agora já temos estão sendo chamados de “revolução”. Diria que para muitos dos artistas do povo, ainda estamos na idade da pedra, dado o nível de desprezo e abandono em que estão submetidos. De fato, estas coisas não acontecem do dia para a noite. Há um déficit cultural histórico vergonhoso, que sabemos não é fácil de superar. Admiro o ministro Juca estive com ele em Fortaleza, suas idéias e convicções me causaram boas impressões o que não ocorria com o cantor. Mas é notória a falta de maiores investimentos financeiros, a burocracia ainda impera e o tecnicismo governamental uma lástima. Há muitos entraves a serem superados...

Há também algumas atitudes absurdas e injustificáveis como os gordos benefícios direcionados aos setores das elites em detrimentos dos projetos mais ligados as massas populares no seu ofício cultural do dia a dia.

Creio por fim, que os mecanismos pelos quais se inserem a nossa atual política pública de cultura(em todos os níveis do poder) precisam ser melhores implementados, dinamizados, socializados, mais justos, desburocratizados, transparentes e democratizados. Deste modo, a cultura brasileira será melhor assistida e, decerto produzirá muito mais frutos.

Alexandre Lucas - Atualmente você é Secretária da Cultura, Turismo e Desporto na cidade de Aurora. Quais os destaques da sua gestão?

José Cícero - Tudo o que já realizamos nesses 13 meses de gestão, foi e continua sendo destaques; visto que antes, quase nada havia sido feito na área cultural. Basta dizer que a secretaria de cultura só existia no papel. Tivemos literalmente que começar tudo do zero e isso continua sendo uma tarefa árdua. Construir alicerces sólidos demanda tempo e esforços redobrados. Notadamente quando não se recursos suficientes. Contudo, podemos destacar a compra e recuperação do antigo casarão da Refesa(onde morou o célebre historiador cearense Jader de Carvalho) que hoje abriga a sede da Seculte-Aurora. Uma iniciativa que visa a preservação do nosso rico patrimônio histórico e arquitetônico. A compra do antigo sobrado do Cel. Xavier – o fundador de Aurora, onde iremos instalar o museu e a casa de cultura Aldemir Martins no centro da cidade. A reforma da antiga estação ferroviária onde foi instalada e ampliada o acervo da Biblioteca Pública Municipal. Onde também iremos criar o Café Cultural, a Ilha Digital e o museu do engenho de cana no seu entorno. A recuperação da estação do distrito de Ingazeiras para o centro de cultura. A criação do ateliê de artesanato da Seculte, a realização da Conferência Municipal de Cultura, a formulação e sistematização do plano municipal de Cultura, o inventário turístico de Aurora, o mapeamento de todos os artistas e artesãos do município, festival de repentistas populares, criação da exposição permanente “olhares d’Aurora”. Apoio a resgate dos escultores locais, criação do selo postal e do brasão do município por ocasião da passagem dos 126 anos de Aurora; realização de grandes eventos voltados para a cultura local tais como: O Festal Junino; festival de teatro(Festac), o AuroraFolia com concurso de blocos e vesperal de clube(Carnaval da saudade), Festa do município; tombamento de prédios antigos; aquisição de um novo acervo bibliográfico para a biblioteca pública; criação do ateliê do artista plástico Arnaldo das Ingazeiras; criação do barracão da cultura; elaboração do calendário cultural e do plano municipal de cultural, participação no programa mestre da cultura(tesouro vivo da cultura cearense), dentre outras iniciativas. Presumo que um dos grandes destaques da nossa gestão foi termos conseguido restabelecer a autoestima dos nossos artistas e fazedores de cultura que estavam desacreditados por décadas de desprezo e cansados de tanto faz-de-conta. De tal sorte que voltaram a acreditar que uma nova visão cultural é possível. Que a cultura e o talento que eles possuem são valores que a Seculte-Aurora tem a obrigação de incentivar, preservar, difundir e valorizar como pérolas raras do nosso Cariri, etc.

Alexandre Lucas - Quais os desafios?

José Cícero - Os desafios são imensos e incomensuráveis, porém nossa vontade e determinação de vencê-los são ainda maiores. Por isso somos fortes e não tergiversaremos um só instante nesta empreitada história de transformarmos para melhor a cultura aurorense. Notadamente pelo fato de podermos contar com um gestor – o jovem prefeito Adailton Macedo, como uma figura bastante sensível às causas culturais de Aurora, assim como às proposta do nosso projeto de política cultural que viabilizamos para o município.

Outro grande desafio é conseguirmos vencer todo o aparato burocrático e político das hostes governamentais que funcionam como verdadeiros abismos entre governo(do estado e federal) e os município, em especial os pequenos dos grotões do Nordeste, como é o caso de Aurora. Ainda, ter que convencer as instituições públicas e privadas que de algum modo tratam da cultura; de que o nosso interior também precisa de investimentos e incentivos, posto que dispõem de verdadeiros celeiros artísticos, muitos deles em completo abandono, ao ponto de desaparecer para sempre.

A propósito, cadê os projetos e os incentivos da BNB que não se estendem para os nossos rincões? Urge ainda que haja uma facilitação dos atuais projetos para a obtenção de incentivos culturais. Porque do jeito que são exigidos promovem uma exclusão sistemática de parcelas importantes dos nossos municípios interioranos e outras pequenas organizações de classe com o fito na arte e no fazer cultural.

Importantes Ações na área do esporte:
1- Realização da Copa Aurora de Futebol Amador – Leço Quezado.
2- Do Campeonato Juvenil de futebol – 2ª divisão – Luiz Simião.
3- Programa Esporte Cidadania – com a criação de duas escolinhas de futebol infanto-juvenil atendendo pouco mais de 200 crianças divididas em dois pólos: Araçá e Aurora Velha.
4- Projeto Segundo Tempo renovado atendendo cerca de 200 crianças em parc. do gov. do estado e federal.
4- Torneio de Voleibol e futebol de areia(infanto-juvenil).
6- Atletismo: Corrida ecológica e Corrida da emancipação
7- Circuito municipal de ciclismo
8- Torneio de Travinha no campinho da estação ferroviária.
9- Torneio de 1º de maior(com várias competições esportivas em diversas modalidades: Futsal, Campo e atletismo).
10- Solenidade de Lançamento do Projeto Segundo Tempo.
11- Sessão de lançamento da Copa Aurora e do campeonato juvenil segunda divisão.
12- Formação da seleção de futebol máster com atletas da seculte e convidados.
13 – Peneirão de futebol para o Atlético de Cajazeiras com as presenças de dirigente e do ex-goleiro Jorge Pinheiro.
14- Torneio de Futebol feminino no distrito de Ingazeiras(Gov. Itinerante)
15- Encontro com desportistas para a apresentação do projeto esportivo( e copa Aurora) nos distritos.
16- Encontro com os atletas mirins do PST encerramento das atividades do ano (recesso na estação ferroviária)
17- Composição do quadro de arbitragem.
18- Encontro com os atletas da Copa Aurora do campeonato da 2ª divisão juvenil para discussão sobre o Peneirão de Futebol.
19- Encontro com dirigente e atletas para a apresentação do Projeto Esportivo e Copa Aurora – Salão paroquial.
20- Diversas partidas de confraternização e exibição com equipes másteres de outras localidades.
21- Formação de uma equipe de monitores para o desenvolvimento do Voleibol, Handebol e basquete, bem como para cuidar do futebol feminino(campo e futsal) dentro das escolinhas e do PST.
22- Doação de várias bolas de futebol às equipes locais, sobretudo da zona rural.
23- Pré-seleção de 20 atletas mirins de Aurora para o programa Bolsa Esporte.
24- Mapeamento de todos os campos de futebol amador do município (sede e zona rural).
25 – Levantamento de todos os atletas, dirigentes esportivos e agremiações existentes no município.
26 – Jogo de exibição com a presença da seleção de ex-jogadores do Icasa e Guarany e seleção máster da Seculte com a presença do ex-craque do Vasco da Gama Naza.
27 – Recepção ao ídolo do Flamengo Ronaldo Angelim no sítio Lagoa do Machado.
28 – Reforma e pintura do Estádio Municipal e da quadra Poliesportiva do Araçá.
29 – Recuperação das traves da quadra do CSU e apoio sistemático ao desenvolvimento do futebol feminino(Futsal e campo).
30 – Fornecimento de material esportivo de boa qualidade(Topper, Pênalty, Stadium, Madrid e Kappa ) para o desenvolvimento diários de atividades esportivas nas quadras e campos da sede, distritos e zona rural).
31 – Realização do torneio de Futsal masculino de janeiro no distrito de Ingazeiras.
32- Realização do Dia do Desafio contra a inatividade em parceria com o Sesc/Cariri.
33 – Treinamento teórico para a equipe de arbitragem da Seculte.
34- Formação da equipe disciplinar para acompanhar a atuação dos árbitros durante as competições oficiais.
35 – Sistematização do Plano Municipal de esporte e Lazer.
36- Preparação inicial com vistas a realização da 1ª conferência Municipal de Esporte.
37- Elaboração do Projeto Sócioesportivo para o município.
38- Elaboração do Calendário Esportivo anual para o município.
39- Criação da comenda: Atleta do ano/2010.
40- Diversas partidas envolvendo as seleções dos atletas infanto-juvenis das escolinhas de futebol e do PST(Araçá e Aurora Velha).
Nunca o município de Aurora fez tanto pelo esporte, sobretudo nos investimentos em materiais esportivos e na promoção de grandes eventos.
41- Pré-inscrição de atletas juvenis de Aurora no programa Bolsa Atleta.
42- Encontros mensais de avaliação e planejamento da Seculte com os seus monitores esportivos.
43 – Atividades periódicas de caráter lúdico-pedagógico com os atletas mirins do Programa Segundo Tempo(PST).
44 – Liberação dos árbitros da Seculte para atividades de outras instituições locais, bem como para as partidas e “rachas” diários das quadras: Poliesportiva e CSU, bem como para os treinos diários nos campos de futebol, etc.
45 – abertura e melhoramento do campo de jogo do estádio municipal para as finais da Copa Aurora, jogos da comunidade e treinos públicos do segmento esportivo local.
46- Limpeza e Organização das atividades diárias das quadras do CSU e Poliesportiva.
47 - Apoio e acompanhamento dos jovens atletas para testes no futebol juazeirense.

Algumas ações importantes nas áreas da Cultura e do Turismo:

1- Aurora Folia. (Carnaval de rua, concurso de Blocos) e Vesperal das crianças(ABA).
2-Corpus Cristhus (Ornamentação da Avenida Antonio Ricardo).
3-Festal Junino(Festival Municipal de Quadrilhas Juninas)
4-Festac(Festival Municipal de Teatro)
5-Conferência Municipal de Cultura.
6-Apresentações culturais na vinda do Ministro da Previdência Social, José Pimentel.
7-Festa do Município 2009.
8-Apresentações culturais nas comitivas de Ingazeiras e Santa Vitória.
9-Aquisição do antigo casarão da Refesa.
10-Restauração da Estação Ferroviária.
11-Inauguração da nova estátua do Padre Cícero, teatro de rua e Banda Cabaçal.
12-Festival de Violeiros.
13-Restauração da Quadra Poliesportiva.
14-Instalação do Barracão da Cultura(artesanato e escultura) durante a festa do município e outros eventos importantes.
15-Torneio da colação(Ingazeiras).
16-Encenação do Presépio vivo de natal.
17-Instalação, inauguração e ampliação da biblioteca Pública.
18-Apoio à passagem do Rally dos Sertões por Aurora.
19-Instalação da sala de exposição na sede da Seculte.
20-Instalação do ateliê do pintor Arnaldo de Ingazeiras.
21-Criação do Selo Postal e do Brasão oficial do município.
22-Aquisição do acervo bibliográfico(1.177 livros) para a Biblioteca.
23-Aquisição por compra do antigo Casarão do Cel. Xavier (Cnec).
24-Participação no lançamento do Seminário Cariri Cangaço (Crato-Ce).
25-Instalação da sala de exposição “Olhares Aurorenses” de arte e cultura (sede da Seculte).
26-Exposição permanente/itinerante Dil André de Miniaturas de carros antigos.
27-Mapeamento cultura de artistas e artesãos aurorenses.
28-Participação de quatro artistas aurorenses no programa estadual Tesouro Vivo da Cultura cearense(mestres de Cultura) para a aquisição de uma bolsa vitalícia.
29-Inventários dos pontos turísticos de Aurora.
30-Apoio na apresentação dos talentos da terra durante a grande Festa dos 126 anos de Aurora.
31-Levantalmentos iniciais para o tombamento e melhorias na Necrópoles (cemitério) da Bailarina (Sítio Carro Quebrado), Casarão da Seculte e do Cel. Xavier e a Massalina do rio Salgado.
32-Inscrição junto a Secult-CE do Projeto do AuroraFolia 2010.
33-Estudos e Levantamentos técnicos com representantes da Secult-CE na Estação Ferroviária, Casarão do Cel Xavier, Estação de Ingazeiras, Casarão da Refesa, Capelinha da Mártir Francisca e dos restos arqueológicos(alicerces) da antiga Capela de São Benedito na Aurora Velha do Preto Bendito.
34-Criação do blog Seculte-Aurora para a divulgação das notícias, eventos e outros informes da Seculte, com também da arte e literatura aurorense.
35-Criação do ateliê do artesão Dil André( na dese da Seculte) e do acervo discográfico.
36-Incentivo financeiro e premiação considerável aos blocos carnavalescos e as quadrilhas juninas.
37-Apoio com a doação de bandas locais a alguns eventos festivos(musicais/dançantes) em diversas localidades da zona rural,
38-Reforma e pintura da antiga caixa d’água metálica da estação como um dos nossos monumentos históricos ligados a existência do trem,
39 - Exposição de obras de artista da terra durante a solenidade de fundação da AFA em Fortaleza,
40 - Apoio e acompanhamento ao jovem violeiro Alex das Oiticicas nas apresentações da Festa do Município, eventos locais e na TV Verde Vale de Juazeiro do Norte, etc.

Alexandre Lucas - Você tem uma preocupação com o resgate da história regional, em especial de Aurora. Qual a importância dessa história para o nosso povo?

José Cícero - Penso que um povo sem história é um povo sem compreensão do seu presente e, portanto, sem futuro. Quem não conhece e nem preserva sua história está fadado ao fracasso, posto que não possui identidade, não se conhece a si mesmo. Perdeu seus referenciais...

Não consigo acreditar na cidadania humana quando existe um desprezo explícito ao conhecimento e a valorização da história de cada um, assim como da sociedade em que vive. De tal maneira que o nível de consciência intelectual de cada indivíduo está diretamente atrelado a sua capacidade de compreender a importância da história para a sua vida cotidiana e, sobretudo para a construção dos horizontes do seu futuro. Seria a história vista, analisada e repensada a partir de uma ótica dialética dos seus fatos e acontecimentos. Não vejo a história em todas as suas nuances, como algo morto e sepultado no âmbar do passado. Isso não. A história vive para sempre com os contemporâneos como se fosse a luneta mágica de Machado, como um farol iluminando o caminho, enfim, um instrumento de valorização das nossas experiências e potencialidades diante da perspectiva empírica da construção do futuro. Eis a razão do meu ingente interesse pela história de Aurora, da região e do mundo.

Toda história me é fascinante naquilo que ela tem de mais autêntico: a luta cotidiana dos seus personagens - o povo. Porque de alguma maneira me proporciona ensinamentos e sabedoria. Mas, entretanto ressalvo: desconfio e tenho medo da história puramente oficial. A história mascarada escrita pelos vencedores. A história que relevo será aquela tecida pelas mãos suadas e calejadas dos otimistas e explorados. Porque todas elas foram feitas de verdades... A verdade que ainda hoje nos liberta das amarras do atraso e da ignorância cavalar.

Alexandre Lucas - Você é um dos assíduos colaboradores do blog do Coletivo Camaradas. Como você ver a atuação dos “Camaradas”?

Sinto-me honrado em ter sido convidado para colaborar com este projeto de mídia fenomenal que é o CC. Fazer parte desta plêiade de lutadores destemidos me apraz sobremaneira. De modo que está no meio de vocês (os camaradas) é como se fosse um puro sentimento de se está no mundo como diria o mestre Drumonnd.

A atuação dos camaradas segundo a minha ótica está sendo producente, positiva e fundamental para a projeção necessária e a repercussão que vem recebendo este blog pioneiro do nosso Cariri. Uma contribuição das mais valiosas para a democratização da informação, da cultura e difusão do hábito da leitura junto a sociedade caririense e alhures. A idéia da invenção/criação do CC foi simplesmente sensacional. E aqui aproveito para parabenizar esta mente prodigiosa, assim como esta força incansável do confrade e companheiro Alexandre Lucas, bem como de todos quantos se alinham com o seu propósito de luta e ideal revolucionário, eu diria. Conquanto, eu não podia me furtar a esta contribuição tão nobre de publicar neste Blog cultura e político a serviço do socialismo, das artes, da verdade e da evolução cultural e intelectual do homem.

Como seria o mundo e a própria vida não fosse a ousadia, o gesto de coragem, o desprendimento, a loucura produtiva, a inteligência, a paixão, a sabedoria, a garra sonhadora e ideológica de pessoas como estas que compões o CC?

Vocês me ajudam tanto a compreender, quanto a acreditar na possibilidade de um outro mundo possível, viável, igualitário, justo, fraterno, poético e diferente. Sucesso a todos vocês do CC.
Que Allá os proteja, guarde e ilumine para o todo e sempre...

Algumas poesias do Camarada José Cícero


PedAços
Porto.
Mar adentro
Parada.
Perdida
Oco do mundo.

Parto.
Sempre do princípio.
Porto;
Solidão da vida.
Parcas lembranças.
Trem fantasma.
Navio pirata.
Coração partido.

Parto.
Sempre do ponto
Eqüidistante.
Partido.
Sentimento.
Peso morto.
Prenúncio de tudo
Que existe
E que não temos.
Redemoinho,
Mar revolto,
Amazônicos desejos.
Beijos ardentes,
Islamismo.
Pacífico
Atlântico sul
Pecado.
Quebra-vento
Linha do equador.

Parto.
Tempo distante,
Natimorto.
Esquecimento.

Parto.
Posto inconcluso,
Geodésico.
Ponto cego
Quebranto.
Passamento,
Paraíso.

Parto.
Paroxismo extremo.
Nascimento.
Via-láctea, cosmos.
Pecado lírico.
Momento
Derradeiro,
Parada e tanto.

Porto.
Concepção da vida
E da morte.
Solidão de tudo
A partir de mim
E de todos os outros.

Parto.
Sentimento vivo.
Fragmentos
Do que um dia
Foi completo.

Porto longínquo.
Pergaminhos
Do mar morto.
Triângulo das bermudas.
Pleno medo,
Mistério.

Parto.
Parco instante
Tempo vencido.
Insígnia partida
Segrego da esfinge.
Saudade.
Puro fingimento.
Pecado,
Sacrilégio.
Defloramento.
Profanação de corpos
Pessimismo

Parto.
Estranhos pedaços
De tudo
Que existe
E não compreendemos:
Partidos.

NOTURNOS
Nas noites
De intenso frio
Eu ardo.
Quando me beijas
Tremo.
Nas noites
De calor intenso
Eu queimo
Por dentro.
Todos meus pecados
Profanos,
Quando me mordes
E riscas o meu peito
Com teu desejo
Ferino.
Sobre-humano.
Tição de fogo
Que carregas aceso
Entre teus lábios
m amanhecer de risos.
Nas noites amenas
Entrego-me como escravo
Aos teus carinhos
Alucinados.
Como um louco
Ao sabor da sorte
Predestinado,
Ao único amor que existe
Na face do mundo.
Nas noites que a tenho
Eu tremo.
Vivo, morro e ressuscito
Sempre quando sinto
Que estou em teus abraços
Estreitos,
Noturno orvalho,
Viva brasa.
Ação do gesto
Consolidando-se.
Aroma de terra e mato.
Acolhendo-me por inteiro
E por completo,
Como se eu fosse um náufrago
No alto-mar do teu como corpo lindo
Afogando-se por gosto
Por sua conta e risco,
Implorando,
para que tu me salves.
Nas noites que passamos
Em claro,
Não mais sentimos
Nada do que sonhamos
Ontem,
E não realizamos.
Nem frio, nem solidão, nem medo.
Toda felicidade existe
Neste instante eterno.
Paixão ao extremo
Do que é possível.
Somente aos deuses
Do Olimpo.
Porque junto encontramos
o porto seguro
que precisamos
para sermos felizes,
Todas às vezes
Que nos sentimos solitários.
Vazios de nós mesmos
E nos completamos.
Uníssonos.
Plenos sentimentos.
Nas noites pálidas
Que passamos
Tu me acendes,
Tocha incandescente.
Estrela guia
do meu oriente alvissareiro.
Íris dos olhos
Rosa sertaneja.
Frescor do teu sorriso
Abrolhos.
Todo belo que existe
Na mais justa perfeição
do encanto:
Maciez tênue dos teus seios
Apontando à frente,
O azimute,
Montanhas no limite
da verdadeira linha do horizonte.
Caminhos.
Noturnos que vivenciamos.

• PEDREGULHOS

Paralelepípedos,
[ palavras
que nos elevam
além do concreto.
[Sentimentos.
Altas muralhas,
que nos prendem
entre a poética
[existencial
do imaginário
e a inventividade
da sua própria lavra.

Paralelepípedos,
[falares.
Metalinguismo aristotélico
que dá forma ao mundo.
[Ideário
anglo-saxônico, ibérico.
Eterna sensação grandiloquente
de quem sofre
a eterna ilusão dos amantes.
Inexorável aptidão para o caos
que construímos.
Pelo que somos,
[toda fala.
Língua, cotidiano
que (re) inventamos.

Paralelepípedos,
[utopias.
Versos, flor de cheiro
aromas do caminho
que pisamos.
[Espinhos.
Realismo fantástico
do concreto,
daquilo que somos.
Imaginamos.
[vivemos
e nos abstraímos.
Quase sempre na ânsia
de sobrevivermos
a nós mesmos.

Paralelepípedos,
[concretude.
Geométrica forma
do que muito pouco
compreendemos
do universo.
Paralelismo;
palavras ao vento.
Símbolos gráficos,
sonoro abstracionismo
do que de fato somos.
Letras soltas
[sem sentido:
Granito humano.

Paralelepípedos,
[ concreto,
do que pensamos.
Sonho de pedra.
[Sentimento,
de se está no mundo.
Paralelepípedo.
Náusea, angustiante.
[Existir:
Pedra do caminho.

Vacuidade Humana

O vazio está em tudo.
Do mesmo modo
[indicativo
que o absurdo
de se viver o impossível
do que não é preciso...
Vive também
nos atormentando,
na mesma proporção direta
com que vivemos
a desesperança
de uma vida toda,
[entranhada
no superlativo
das coisas estranhas.
Bizarros interesses,
acontecimentos pífios.
Desejos dos maniqueístas,
a solapar o egoísmo,
- tênue combustível humano:
senso comum cotidiano
de todos os sonhos
que não têm sentido.
E outras ilusões
que alimentamos.

Ótica estranha
esta nossa...
Em vê-se o mundo
[pelo lado oposto,
avesso da luneta mágica,
convencionalismo.
Buscando sentido,
onde nenhum sentido
Jamais existe
ou se sustenta.
Quimera imperceptível,
sucedendo os fatos
tão sem nexo,
[inexatos:
neologismo de enganos
em fractais imensos,
cubos de gelos siberianos
com os quais testamos
todos os vícios
que consideramos
meros privilégios
sobre-humanos.
Na tola ilusão
de que somos
- máximos.

Puro vazio de tudo.
Hiperbólico estranhamento
[mal resolvido,
dentro de nós
sangrando.
Oco do mundo.
Qual ciclo menstrual
costumeiro, repetitivo,
e contumaz.
Sempre se derramando
no egoísmo residual
dos relógios cronológicos
escondidos no fundo falso
Do nosso consciente
[incauto.
Esquecido de propósito
nas gavetas dos hospícios
edificados em nosso cérebro
pelos duendes sedentos
de metal e sangue,
bem como pelos loucos.
Dementes ensandecidos
andando a esmo,
em círculo.
Contando vaga-lumes
no escuro-breu
dos nossos olhos
arregalados e cegos
de betume
no fim do túnel.

Racionalismo ‘escroto’
Estoicismo insosso.
Perdido no silêncio eterno
Da concretude geométrica
[e angular
do nosso credo
gregário,
apostólico.
Segredo conhecido
pelos falsos réus
escondidos,
dentro do juízo de nós mesmos.
Testemunhos ocular
de toda a vergonha
e a falta de escrúpulo
de todo mundo.

• QUEM SOU EU...

Sou Eu.
Sempre serei o que penso de mim mesmo.
Nunca serei nada mais que isso
na medida exata daquilo que nunca pensei que eu fosse.
Eu simplesmente existo.
E desse modo indicativo e estranho
sinto que estou vivo.
Pleno, feliz e farto de ser eu mesmo
o tempo todo;
e um pouco mais se for preciso.
Nunca serei nada.
Estou sendo...
Posto que meu tempo é hoje.
E isso é tudo.
E o que eu não sou
nunca penso.
Posto que não pretendo.
Tudo o mais que imagino
no mais das vezes sinto
que não serei.
Sou outro.
Estou sendo.
Eu aconteço...
Amanheço e anoiteço em mim mesmo.
Porque vivo não no espaço.
muito mais que no próprio tempo
de tudo que nunca serei um dia.
Eu sou:
logo existo.
Eu sou - José Cícero.
Devoto que traz no peito
um pouco de coragem e medo
de tudo que desconheço,
muito mais que de tudo um pouco.
Sou eu..
Um romântico vencido
pela vida que os outros sentem,
mas que não sinto
por em mim mesmo.
Apenas penso.
Muito antes do que falo e escrevo.
Eu sou José Cícero.
Eu EXISTO!