quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bastinha - Uma crítica bem humorada


Cordelista, professora e responsável pela inclusão da disciplina de Literatura Popular do Curso de Letras da Universidade Regional do Cariri, Bastinha Job vem desenvolvendo o seu trabalho poético desde a infância. Pertencendo a Academia dos Cordelistas do Crato,  ela destaca com orgulho que “É bastante dizer que ela  (Academia) revelou inúmeros poetas, atualmente com mais de mil títulos publicados e mais de um milhão de folhetos lançados, com temáticas abrangentes”.    


Alexandre Lucas – Quem é Bastinha?

Bastinha - Professora aposentada,
cordelista na ativa,
Assaré do Patativa
é minha terra amada;
Crato é a mãe idolatrada,
que me acolheu em seu seio,
aqui encontrei o veio
da joia da Educação,
da completa Formação
que me deu força e esteio.
Alexandre Lucas – Como se deu seu contato com a poesia?

Bastinha - Leio desde a meninice
Patativa e Aderaldo,
deslumbrei-me com Clarice,
no momento, leio Ubaldo,
Pompílio e Zé da Luz
estilo que me seduz;
E viajei com Lobato,
neles, vivi a magia
 setas da  minha  poesia
e guias do meu contato.
Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória poética:
Bastinha - Minha trajetória começou desde criança quando fiz o curso de declamação na Escola de Arte de Sara Quixadá Felício Participei de muitos jograis que se apresentavam em grêmios escolares, comemorações. Continuamente, fiz o Curso Primário, o Pedagógico e cursei Letras na antiga Faculdade de Filosofia. (URCA) Ensinei Língua Portuguesa em quase todos os colégios do Crato. Durante muitos anos (até aposentar-me) na referida URCA . No ano de 1993 consegui um gol de placa: criei com dois colegas, a Cadeira de Literatura Popular sendo a primeira professora do mencionado Curso. Graças a Deus a Cadeira se mantém forte e firme descobrindo vários talentos.
Alexandre Lucas – O que representa a Academia dos Cordelistas do Crato para você?
Bastinha - A Academia dos Cordelistas do Crato,  fundada pelo saudoso Elói Teles de Morais, no ano de 1991, não é só um marco na minha vida; mas  para toda a Cultura Popular do Crato e do Nordeste. Através dela, me descobri cordelista. Ela também resgatou o cordel que estava agonizante, mascarado pelos meios de comunicação de grande  e monopolizador poder. E o melhor, foi  por causa dela ,que eu não medi esforços para fundar a Cadeira de Literatura Popular da URCA. A Academia., sim, merece um troféu!
Alexandre Lucas – Como você define a sua poesia?
Bastinha - Eu faço poesias críticas
com pitadas de humor
e alfinetadas políticas,
mas também falo de amor;
meu poetar é a arma
que incita ou que desarma,
que faz rir, que faz chorar;
em suma ela é catarse
autêntica e sem disfarce
um compromisso a se honrar!

Alexandre Lucas – Como ocorre o seu processo criativo para a poesia?

Bastinha - Não tenho um processo criativo específico. Sigo as minhas intuições inspiradas  pelos fatos do cotidiano, acontecimentos políticos, sociais, religiosos e, sobretudo, crítico humorísticos.

Alexandre Lucas – Como você avalia a produção literária na região do Cariri?

Bastinha - Nossa região é muito bem servida neste setor. Nossa Cultura é rica e diversificada. No tocante à literatura de cordel, principalmente, houve grandes impulsos, nessas duas últimas décadas,com a criação da Academia dos  Cordelistas do Crato (a qual pertenço). É bastante dizer que ela revelou inúmeros poetas, atualmente com mais de mil títulos publicados e mais de um milhão de folhetos lançados, com temáticas abrangentes. Nossa Academia transpôs fronteiras, e, só precisa  de apoio financeiro dos órgãos competentes.

Alexandre Lucas – Você acredita que a literatura é um instrumento político? 

Bastinha - É sim. A política é que não toma conhecimento de sua importância na literatura. Através da poesia, o poeta critica, louva, aplaude,orienta  e se engaja em qualquer setor: político, social, religiosa, histórico, onírico, etc, etc...

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos? 

Bastinha - Diariamente os acontecimentos me fazem escrever sonetos, trovas e cordéis. Entretanto, estou compilando meus textos mais pertinentes a fim de escrever meu tão sonhado livro.




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Kaika Luiz – Um produtor com a cara do Cariri contemporâneo

Começou a produzir eventos no tempo em que fazia  tertúlias na sua casa, Kaika Luiz desde cedo manteve contato com a diversidade da produção do Cariri e nos últimos vintes anos vem se destacando pelo seu trabalho de produção cultural, tendo sido responsável pela vinda para região de artistas como Moraes Moreira, Fagner, Kid Abelha, Lobão, Luiz Gonzaga e Bandas como Seu Chico (Recife), As Chicas (Rio de Janeiro), Black Dog (Rio de Janeiro), Blues Power (Rio de Janeiro), Cabruêra (João Pessoa), Os Transacionais (Fortaleza), Os Caetanos (Recife), Caco de Vidro (Fortaleza) e muitos outros, além de quase todas as bandas do Cariri. Kaika também  é um dos defensores da criação do percentual de 2% receita municipal ara cultura.  

Alexandre Lucas –  Quem é Kaika Luiz?

Kaika Luiz  - Existe uma música do Nilton César, das antigas, chamada EU SOU EU que acho me identifica bem, principalmente no trecho onde ele canta: “Eu sou eu, foi meu pai que me fez assim, quem quiser que me faça outro, se achar que eu sou ruim.” Ouvia muito essa música nos parques que vinham para o Crato fazer a festa da exposição e padroeira, principalmente o Parque Maia. Sempre achei que essa música diz um pouco de mim.

Alexandre Lucas –   O que é o Cariri para você?

Kaika Luiz  - Uma lindeza que tive a grande oportunidade de nascer. Certa vez ouvi da amiga Izaíra Silvino que “O cariri tem um artista em cada esquina”. Isso é o que vejo também: por onde você anda aqui no Cariri você esbarra com um artista. Então o Cariri é isso.  Arte pura.

Alexandre Lucas –   Como se deu seus primeiros contatos com a arte?

Kaika Luiz  - Dentro da minha própria casa, desde cedo. Tive várias influências culturais. Inicialmente com meu irmão mais velho Nacélio, conhecido por Veinho. Eu era criança e ele teve uma banda aqui no Crato. Era o THE TOPS que já tocava muita música bacana. Outro irmão, o Roncy, um pouco mais velho que eu, mas um grande apreciador de rock,  eu curtia junto. A banda Ases do Ritmo, outro grande ícone das décadas de 70/80 no Cariri. Tive o prazer de ver e ouvir muitas vezes essa moçada sob a batuta de Hugo Linard. Aí vem Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Beatles, etc. Na literatura veio do Colégio Diocesano, onde estudei todo o ensino básico. Lembro bem do meu primeiro livro que ganhei de presente da professora Almerinda Madeira no meu aniversário. Foi “As aventuras de Tom Sawer” de Mark Twain. Nunca esqueci esse presente. No cinema, desde cedo nós convivíamos com a arte do cinema aqui no Crato, pois como todos sabem, tínhamos três ótimas salas de exibição e eu garoto estava sempre antenado com o cinema. Então, eu convivi com algumas vertentes das artes desde cedo, música, teatro, cinema, literatura, pintura, tudo isso fez parte da minha vida infantil e continua até hoje.

Alexandre Lucas –  Fale da sua trajetória:

Kaika Luiz  - Nasci na Rua Teófilo Siqueira, esquina com a antiga Rua Pedro II (hoje é Rua Vicente Lemos). Ali onde hoje tem um prédio e funciona uma xerox. Minha primeira escola foi o grupo escolar Alexandre Arraes. Em seguida mudei para o Diocesano. Desde cedo já me interessava em ajudar o meu pai no seu comércio na inesquecível Cantina do Oliveira que, mais tarde, profissionalmente, comandei por 25 anos. Com o falecimento do meu pai em novembro de 2000, resolvemos fechar a empresa e a partir daí comecei a levar a minha profissão de produtor cultural com mais afinco. Na realidade eu já o fazia antes, mas só a partir do ano 2000 é que me voltei totalmente para a profissão. A minha produtora foi fundada desde 1996. Neste cenário também trabalhei e ainda trabalho com publicidade e turismo. Sou meio workaholic, sempre procurando me envolver com arte, cultura e turismo.

Alexandre Lucas –   Você tem contribuído para a produção cultural na região do Cariri. Fale desse trabalho:

Kaika Luiz  - Pois é, isso começou também muito cedo. Acho que nos tempos que fazia as “tertúlias” em minha casa. Minhas festinhas já eram conhecidas. Depois, quando fui trabalhar no comércio, fui convidado a integrar a diretoria do Crato Tênis Clube, o que fiz durante oito anos. Nesse período as festa da “Exposição do Crato” aconteciam nos salões do CTC. Minha profissão de produção se intensificou muito nesse período. Foi no Crato Tênis Clube, principalmente com alguns componentes da diretoria, principalmente o Ermano Américo, que a coisa detonou. Aí trouxemos pra tocar no clube artistas como Moraes Moreira, Fagner, Kid Abelha, Lobão, Luiz Caldas, Luiz Gonzaga, Beto Barbosa, e muitos outros. Em seguida fiz algumas produções locais com o artista Nonato Luiz, e uma mini turnê estadual com o Didi Moraes. Tenho conseguido ultimamente em parceria com a produtora Mônica Vitoriano, da MC2 Produções, realizar bons eventos aqui na região, sempre procurando buscar novas linguagens musicais em atividades em outras regiões, em sintonia com a produção local. Bandas como Seu Chico (Recife), As Chicas (Rio de Janeiro), Black Dog (Rio de Janeiro), Blues Power (Rio de Janeiro), Cabruêra (João Pessoa), Os Transacionais (Fortaleza), Os Caetanos (Recife), Caco de Vidro (Fortaleza) e muitos outros, além de quase todas as bandas do Cariri. Sempre procuramos colocar uma banda local nessas apresentações no sentido de haver uma interação entre os estilos e para o conhecimento entre artistas.

Alexandre Lucas –   Como você ver a produção cultural na região?

Kaika Luiz  - Apesar das dificuldades, sempre tem acontecido bons eventos na área cultural no nosso Cariri. Disso podemos nos orgulhar, porque não é fácil realizar esses trabalhos por conta da forte pressão que sofremos com a mídia de massa em eventos de gosto duvidoso, mas que arrasta multidões, infelizmente. Mas graças a Deus temos feito a diferença no Cariri e isso juntamente com outras produtoras, com o SESC, a Secretaria de Cultura do Crato, que sempre tem nos apoiado e a nossa luta na busca de patrocinadores que nos ajudam a viabilizar esse evento. O Centro Cultural do Banco do Nordeste também tem feito um trabalho belíssimo aqui no Cariri, o que nos dá ótimas oportunidades de ver trabalhos de grandes nomes do cenário cultural brasileiro. Em relação aos artistas, fica impossível citar a todos, mas o Cariri é destaque digo que até internacional, por conta de grandes nomes que estão produzindo trabalhos cada vez mais belos e originais.

Alexandre Lucas –   O que você propõe?

Kaika Luiz  - Além dos 2%, que a lei deveria funcionar, proponho uma maior interação entre os produtores, os artistas, o poder público e as empresas, seja comércio ou indústria, no sentido de conseguirmos parcerias fortes para a viabilização de eventos bacanas. Proponho  melhor organização da cadeia produtiva da produção cultural, a fundação de uma associação, sindicato, ou, enfim, que todos, juntos, procuremos nos organizar melhor para o nosso engrandecimento e maior participação de todos.

Alexandre Lucas –   Você também é poeta. Fale da sua poesia:

Kaika Luiz  - Pois é, a poesia também sempre fez parte da minha vida. Desde muito tempo que escrevo, mas como sou muito tímido, nunca as publiquei. De repente me deu vontade de fazer isso através das redes sociais, o que tem me dado um ótimo feedback das pessoas. Achei muito bom isso. A minha poesia é super simples, mas utilizo sempre uma linguagem bem direta e bastante forte. Às vezes utilizo da métrica, mas nem sempre. São vários temas, muitos deles de ordem pessoal, mas tem também a poesia absurda, fora de contexto e engraçada. Gosto de brincar com as palavras, as vezes uso travas-línguas, e outros recursos para torna-la única. Por conta disso algumas delas já viraram música: duas feitas pelo grande músico Pantico Rocha e outro pelo baixista Gustavo Portela de Fortaleza. Estou feliz por isso e pela repercussão do que tenho escrito.

Alexandre Lucas –   Tem planos de publicar um livro com essas poesias?

Kaika Luiz  - Tenho sim, inclusive já recebi um convite para fazer isso através da amiga Eliza Mariano, uma cratense que mora em Fortaleza, proprietária da livraria Lua Nova, um ótimo espaço cultural da nossa capital. Estou organizando tudo isso, inclusive à procura de patrocinadores para viabilizar a impressão.

Alexandre Lucas –   Quais os seus próximos trabalhos?

Kaika Luiz - Estou  organizando para este segundo semestre. Dia 5 de outubro estamos viabilizando a vinda do artista Nigroover de Fortaleza e estamos procurando apoios pra fazer novamente o Reveillo’n’roll, com bandas de rock. Tem também a realização do meu maior sonho que é o FICA – Festival de Inverno do Cariri que estou na luta pra realizar no próximo ano. O FICA já tem projeto há uns 4 anos, já está registrado, só falta o principal: apoio, mas estou sempre procurando e nunca vou me cansar disso.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Edelson Diniz – Mais incentivos para as artes visuais


Artista que despontou nos Salões de Outubro na década de oitenta no Crato, Edelson Diniz  tem propriedade no que faz e fala. Criativamente inquieto, tem um trabalho que nos remete a cultura e a religiosidade popular. Para o artista, no Cariri existe uma produção de qualidade, mas alerta que o campo das artes visuais precisa de incentivos para  qualificar e difundir o que se faz por aqui.      

Alexandre Lucas - Quem é Edelson Diniz?

Edelson Diniz - Pra ser sincero, acho estranho dizer quem eu sou, sou estado de espírito, ás vezes artista, ás vezes bandido...

Alexandre Lucas – Como ocorreram seus primeiros contatos com a arte?

Edelson Diniz - Foi com um irmão meu, ele desenhava quando eu era criança, só que nunca se dedicou, seguiu outro rumo. Dai me senti a vontade pra me apropriar do talento dele e aliar ao que eu ainda hoje tento fazer.


Alexandre Lucas – Quais as suas influências artísticas?

Edelson Diniz - Eu diria que tudo pode me influenciar, não existe um cardápio de influências no meu processo de criação e construção. Notoriamente pode se perceber certa apropriação de traços, cores e formas do nosso folclore e da religiosidade popular, acho que é o mais evidente na maioria dos meus trabalhos.

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória:

Edelson Diniz – Despontei nos Salões de Outubro em Crato, nos anos 80, participei ativamente dos Movimentos OCA – Officinas de Cultura e Artes, Movimento Xá de Flor. Depois fui funcionário da Secretaria de Cultura de Juazeiro por quase 15 anos, foi de lá onde surgiu muita influência, uma vez que eu desenvolvia um trabalho com os grupos folclóricos. Hoje, produzo e tento sobreviver na medida das possibilidades do meu trabalho.

Alexandre Lucas - Como você caracteriza o seu trabalho?

Edelson Diniz - Múltiplo

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Edelson Diniz - Não vejo relação prática entre política e cultura, a cultura oficial inviabiliza muitas vezes a produção e criação artística, vejo um certo excesso de teoria.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Edelson Diniz - Não sei se contribuo socialmente com meu trabalho, minha única meta, é encher os olhos de quem aprecia o que faço e mostro. Pode ser que influencie de alguma forma em alguém, mas não existe uma preocupação de focar uma contribuição.

Alexandre Lucas – Como você ver a produção das artes visuais na Região Metropolitana do Cariri?

Edelson Diniz - A qualidade é boa, temos grandes artistas, a produção poderia ser melhor, se houvesse mais incentivos, uma política pública prática, que sugerisse infraestrutura para qualificar e difundir o que se faz por aqui.

Alexandre Lucas – O Salão de Outubro fez história na região do Cariri. Fale sobre o significado desse movimento para as artes no Cariri.

Edelson Diniz - Significou muito na época em que acontecia, o formato era abrangente, o acesso era fácil, e a receptividade era a melhor, diria que é o alicerce de todos os movimentos que hoje existem aqui no Crato hoje em dia. Quem está à frente desses novos movimentos, passaram pelo Salão de Outubro.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?


Edelson Diniz - Pretendo fazer uma sugestão de um  projeto para iluminar e ornamentar a cidade do Crato no próximo final de ano, sugiro que sejam criados critérios para avaliação de projetos, tipo ver o lado técnico, pesquisa de arte etc, . Fica sugestão.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cláudia Leitão - A dimensão econômica da cultura precisa avançar


A ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará, a  pesquisadora e gestora cultural, Claudia Leitão foi uma das principais formuladoras e incentivadoras da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura. A professora acredita que é avalia que o Brasil avançou na dimensão simbólica e cidadã nos últimos anos, mas ressalta que é preciso avançar no campo econômico da cultura.  

Alexandre Lucas - Quem é Claudia Leitão?

Claudia Leitão - Uma professora e pesquisadora brasileira, uma gestora cultural apaixonada pela reflexão sobre as políticas públicas de cultura, especialmente, sobre as conexões entre a cultura e o desenvolvimento. 

Alexandre Lucas -  Como se deu sua inserção no campo das Políticas Públicas para Cultura?

Claudia Leitão - Eu me graduei em Direito e, em seguida, em Música. A cultura e o conhecimento científico sempre atravessaram a minha vida. De início, através dos estudos da flauta, no Conservatório Alberto Nepomuceno, em Fortaleza. Depois, graças ao meu  doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris. A descoberta da cultura, na perspectiva das políticas públicas, acontece dentro da minha trajetória acadêmica na Universidade Estadual no Ceará, quando coordenei a primeira especialização em Gestão Cultural. Mas, certamente, meu grande "mergulho" no universo das políticas públicas da cultura se deu quando fui secretária de cultura do Ceará, entre 2003 e 2006. Esses quatro anos mudaram meu olhar sobre meu Estado mas, também, sobre minha vida acadêmica. E esse "divisor  de águas" se dá quando, no início da minha gestão, inicio com minha equipe o  planejamento da Secult. O Plano, produto desse processo, tornou-se um documento fundador de nossa gestão, uma declaração política da nossa decisão de trazermos para o Estado a tarefa de liderança na formulação, implantação, monitoramento e avaliação de políticas públicas (e não governamentais,!) de cultura. O mais interessante foi a coincidência de termos, naquele momento, chegando ao MinC, o ministro Gilberto Gil. Esse "encontro" foi muito inspirador e resultou em muita cumplicidade entre o Ceará e Brasília durante quatro anos.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Claudia Leitão -  Minha graduação em Direito me levou a fazer mestrado em Sociologia Juríica na USP. Minha licenciatura em Educação Artística me instigou a fazer  doutorado em Sociologia na Sorbonne. Penso que essas formações que parecem díspares, são absolutamente necessárias e afins quando falamos em políticas públicas e gestão cultural.

Alexandre Lucas – Um dos focos da sua área de pesquisa é o desenvolvimento sustentável.  Qual a relação entre cultura e desenvolvimento?

Claudia Leitão - As relações entre cultura e desenvolvimento são antigas, mas a sua compreensão vem se transformando, especialmente, ao longo do século 20. De início, a cultura foi considerada uma variável determinista do desenvolvimento e, por isso, tornou-se praticamente um "fatalismo" a favor ou contra o chamado "desenvolvimento" de povos e civilizações. Essa visão foi responsável por inúmeras intervenções ou projetos equivocados de desenvolvimento, quase sempre "exógenos" e, por isso, distantes dos desejos das populações para quem foram destinados. Nas últimas décadas do século 20 e início do século 21, inicia-se uma etapa mais alvissareira nas relações entre cultura e desenvolvimento. Ela vai dar lugar a uma visão "endógena" do desenvolvimento, ou seja, a um "desenvolvimento com envolvimento" das comunidades e populações. Nesse momento, a cultura deixa de ser uma "condenação" mas passa a ser um a priori para o empoderamento e o protagonismo dos indivíduos. E mais. A cultura passa a ser considerada pela Convenção da Diversdade Cultural, produzida pela Unesco, como o quarto pilar do desenvolvimento, ou seja, a cultura passa a qualificar os modelos de desenvolvimento no novo século.

Alexandre Lucas – Como você avalia a políticas públicas para cultura no Ceará?

Claudia Leitão - Um dos problemas relativos às políticas públicas no Ceará, mas também em todo o pais, sejam essas políticas culturais ou não, é o relativo à continuidade ou à perenidade das mesmas. Políticas de Governo no Brasil ainda são compreendidas e tomadas como políticas de Estado. O resultado é que muitas políticas, programas e ações sofrem com sua descontinuidade. No plano federal, estadual e municipal essa problemática acontece e é danosa para o Brasil.
 
Alexandre Lucas - O que é a Economia Criativa?

Claudia Leitão - O conceito de economia criativa está em construção, especialmente no Brasil, um país que poderá liderar, na próxima década, a construção de um modelo de desenvolvimento local e regional para o mundo, a partir da formulação de políticas públicas para a criação, produção, circulação, difusão, consumo e fruição de bens e serviços culturais e criativos. A dinâmica econômica dos bens intangíveis não é a mesma da indústria tradicional. E, por isso, carece de estudos e pesquisas, para que sejam produzidos diagnósticos dos setores culturais, em suas especificidades, além da necessidade de se mapear as vocações regionais. Mas, não tenho dúvida que a diversidade cultural brasileira poderá se tornar um ativo econômico importante para a inclusão produtiva em nosso país.

Alexandre Lucas -   Uma das críticas a Economia Criativa é sobre risco de mercantilização da produção artística. Como Você ver essa questão?

Claudia Leitão - A ausência de políticas públicas que intervenham e estabeleçam regras para os mercados, acaba permitindo  que essas mercantilização se dê da forma radical e excludente. Por isso, é tarefa do Estado enfrentar as assimetrias produzidas pelo sistema capitalista, estabelecendo as " regras do jogo" para a economia,especialmente, para a economia da cultura, garantindo, enfim, sua sustentabilidade.

Alexandre Lucas -  A partir da gestão do primeiro Governo Lula o país vive uma nova conjuntura no campo das Políticas Públicas para Cultura, o que gerou um novo protagonismo dos movimentos culturais da cultura. Qual a sua percepção em relação a essa questão?

Claudia Leitão - Penso que a partir do Governo Lula, o Ministério da Cultura alçou novos patamares na formulação de políticas públicas para a cultura. O programa "Cultura Viva" é o exemplo de uma política cultural que privilegia e reconhece a ação dos pequenos, ou seja, daqueles que produzem cultura nos territórios mais longínquos do país. Mas, se o MinC avançou nas dimensões simbólica e cidadã da cultura, considero que a dimensão econômica necessita ainda avançar. Os desafios da Secretaria da Economia Criativa são grandiosos: produzir dados confiáveis sobre o campo cultural e criativo brasileiros, formar profissionais qualificados, oferecer fomento aos empreendedores criativos e definir marcos legais que permitam o florescimento da economia criativa brasileira.

Alexandre Lucas -  Um dos grandes  desafios para as políticas públicas para a cultura  é a criação de um marco legal que garanta a sustentabilidade financeira. Como é o caso da PEC 150 que prevê a garantia de 2% do orçamento da União, 1,5% dos Estados e 1% dos Municípios para a Cultura.  O que representa isso para o desenvolvimento do país?

Claudia Leitão - Aos poucos, o campo cultural vai conquistando garantias jurídicas. Os "direitos culturais", direitos de terceira geração, hoje são considerados direitos humanos fundamentais. A legislação recém aprovada do Sistema Nacional de Cultura é estratégica para o avanço da políticas públicas de cultura no pais. Mas, não acredito que a PEC 150 seja aprovada a curto prazo. De qualquer forma, outros marcos legais precisam ser criados, e talvez sejam mais viáveis a curto ou médio prazos. São marcos trabalhistas, previdenciários, tributários, civis, administrativos, entre outros. Precisamos de uma Frente Parlamentar da Economia Criativa Brasileira, antes que os chineses inviabilizem as dinâmicas econômicas dos nossps bens e serviços culturais.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Toni C – O mano da Nação Hip-Hop


Artista multimídia, autor do romance "O Hip-Hop Está Morto!" e do documentário É Tudo Nosso!, organizador do Hip-Hop a Lápis. Membro da Nação Hip-Hop Brasil e editor audiovisual da TV Vermelho, Toni C é um dos expoentes que vem narrando a história de diversidade e complexidade do Movimento Hip-Hop Brasil.    


Alexandre Lucas - Quem é Toni C?

Toni C - É um cara, como qualquer outra pessoa, que é e faz muitas coisas. Pra facilitar pode ser classificado como multimédia, artista e ativista. Autor de alguns livros sobre Hip-Hop, o mais atual é a biografia de Sabotage, ou seja, sou mais um louco sonhador.


Alexandre Lucas - Como ocorreram os seus primeiros contatos com arte?

Toni C - Desde o nascimento, seguramente. Porém dessa época não tenho muitas lembranças.

Alexandre Lucas - Como surgiu o Hip-Hop na sua vida? 

Toni C - Na infância me lembro de ver o break nos programas Raul Gil,  Barros de Alencar também e na São Bento, bem pequeno passeando com meus pais via aqueles malucos...  Ouvia os balanços, que era como a gente chamava o Rap naquele tempo, na escola, com meus primos mais velhos e do som da escola de samba do bairro, a Mocidade Alegre.

Alexandre Lucas -  Fale da sua trajetória: 

Toni C - Estou ainda trilhando essa trajetória, feito à custa de muita sola de tênis, pedaladas de bike, passando por quebradas, escolas públicas, quadras de basquete, movimento estudantil e sem dúvidas o Hip-Hop.

Alexandre Lucas - Como você avalia o Movimento Hip-hop na atualidade? 

Toni C - Rapaz, é complexo essa questão. Tanto que escrevi um livro a respeito, chamado "O Hip-Hop está Morto!" está cultura está passando por uma transição, uma transformação grande com componentes que vão desde o mercado fonográfico até questões geracionais, passando pela discussão de gênero e o regionalismo. Enfim, quer saber mais, leia o livro.

Alexandre Lucas - Você foi um dos responsáveis pela criação da Nação Hip Hop Brasil. O que é mesmo essa Nação?

Toni C - Fui não, sou responsável, tenho orgulho em pertencer a esta organização desde sua fundação. A Nação Hip-Hop é uma rede formada por gente do Hip-Hop de todo o país que percebe dificuldades parecidas em produzir e difundir nossa cultura, ou seja, em Fortaleza ou aqui em São Paulo, e uma vez identificado problemas comuns, podemos encontrar soluções semelhantes. Hoje nossa organização é considerada a maior entidade de Hip-Hop da América Latina.

Alexandre Lucas -  A Nação Hip-Hop vive um processo de reconstrução? 

Toni C - Reconstrução permanente, de si própria, do movimento Hip-Hop e da sociedade. Quer somar nesta construção? Acesse o site da entidade (www.nacaohiphopbrasil.com.br) e venha fazer parte você também.

Alexandre Lucas - Você vem narrando nos últimos anos parte da história do Hip-Hop. Qual a importância desse trabalho? 

Toni C - A história oficial do Brasil não tem a participação dos negros, não tem participação dos verdadeiros brasileiros, que os "descobridores" chamaram de índios, afinal estavam descobrindo a Índia. Pois bem, parafraseando meu parceiro  Hot Black na música É Tudo Nosso:

"Onde está escrito que estou sujeito
a ser nota de rodapé
 
dos livros de história
sem glória"
Sairmos da nota de rodapé para as capas do livro, hoje somos os escritores, os personagens, as fontes, os pesquisadores... A história é sempre contada pelo ponto de vista dos vencedores. Taí duas coisas que precisamos fazer: vencer e escrever a nossa própria história.

Alexandre Lucas - Como você caracteriza o seu trabalho? 
Toni C - Luta. Luta política, luta ideológica e a batalha de ideias é a mãe de toas as batalhas.

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos?
Hoje meu trabalho é mostrar a todos meu novo filho recém nascido: A biografia de Sabotage: Um Bom Lugar. (www.literaRUA.com.br)





Saiba mais sobre o trabalho de Toni C:
Toni C. é autor do romance "O Hip-Hop Está Morto!" – A História do Hip-Hop no Brasil, organizador dos livros #PoucasPalavras de Renan_Inquérito, Um Sonho de Periferia, Hip-Hop a Lápis e Literatura do Oprimido e colaborador da revista Rap Nacional.

Social
Secretário de cultura da Nação Hip-Hop Brasil e da ORPAS - Obras Recreativas Profissionais, Artísticas e Sociais.

Audiovisual
Diretor do documentário É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História. Editor da TV Vermelho e pesquisador do programa Estação Periferia - TV Brasil.

Prêmios
Ganhador do prêmio Cooperifa, recebeu Menção Honrosa pela Câmara de Marília. É reconhecido como uma das pessoas mais influentes da cultura brasileira, através dos prêmios Tuxáua e Escola Viva, pelo Ministério da Cultura. Foi congratulado pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul com a Medalha Comemorativa da 53ª Legislatura do Estado.

Bibliografia Completa:

Antologias
Hip-Hop a Lápis - O livro (2005)
Hip-Hop a Lápis 2 - Literatura do Oprimido (2010)
Um Sonho de Periferia (2011)

Romance
"O Hip-Hop Está Morto!" - A História do Hip-Hop no Brasil (2012)

Biografia
Um Bom Lugar - Biografia Oficial de Mauro Mateus dos Santos - Sabotage (2013)

Prefácio e comentários
Colecionador de Pedras - Sérgio Vaz (2006)
Trajetória de Um Guerreiro - DJ Raffa (2008)
Rap Dez - O Primeiro rapper dos Quadrinhos -Marcio Baraldi (2011)
Do Conto à Poesia - Alessandro Buzo (2011)
#PoucasPalavras - @RENAN_INQUERITO (2011)

Veja essa e outras entrevistas no Blog das Entrevistas: www.blogdasentrevistas.blogspot.com